Igeja Católica

Papa celebra nova missa de reconciliação em santuário católico mais antigo da América do Norte

Pontífice realiza visita ao Canadá, onde pretende restabelecer a relação da Igreja com os povos indígenas

Papa Franscico celebra missa na Basílica de Sainte Anne de Beaupré, em visita ao Canadá - Chip Sommodevilla / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / GETTY IMAGES VIA AFP

O papa Francisco celebrou, nesta quinta-feira (28), outra missa de reconciliação no santuário católico mais antigo da América do Norte, a Basílica de Sainte Anne de Beaupré, no quarto dia de sua visita ao Canadá, com a qual pretende restabelecer a relação da Igreja com os povos indígenas.

O pontífice, de 85 anos, acenou do papamóvel para os milhares de pessoas, muitas delas indígenas, que compareceram à sua chegada ao santuário de Sainte Anne de Beaupré, 30 quilômetros a leste da cidade de Québec.

No início da missa, justo em frente ao altar e a poucos metros do papa Francisco, manifestantes exibiram uma faixa que dizia: "Revogação da doutrina", em referência à "doutrina do descobrimento", os éditos papais do século XV que autorizavam as metrópoles europeias a colonizar terras e povos não cristãos. A faixa foi retirada pouco depois.

Apesar de classificarem a viagem do papa como histórica, muitos indígenas também pensam que a Igreja ainda tem muito a fazer.

O pontífice veio ao Canadá para pedir desculpas pelo papel da Igreja nos abusos a crianças indígenas em internatos administrados pelos católicos.

Desde o fim do século XIX até a década de 1990, o governo canadense enviou cerca de 150.000 crianças a 139 internatos dirigidos pela Igreja, onde foram afastadas de suas famílias, língua e cultura como parte de uma política fracassada de assimilação.

Muitos sofreram abusos físicos e sexuais, e se acredita que milhares morreram de doenças, desnutrição, ou abandono.

Francisco se desculpou pelos abusos no início de sua visita ao país na última segunda, um pedido de perdão que tem sido recebido com admiração por muitos indígenas.

Desneiges Petiquay, uma mulher de 54 anos da reserva de Manawan, comentou que a visita do líder católico traz uma "mensagem de esperança".

"Este papa sabe que existimos, nos reconhece", disse ela à AFP. "Ontem, eu o vi de perto, me tocou aqui", acrescentou, colocando a mão no coração.

Para muitos outros, no entanto, como Abigail Brook, de 23 anos e integrante das Primeiras Nações de Saint Mary, a visita "não é suficiente". Brook também lamentou que o papa não mencionasse especificamente os abusos sexuais.

Durante a missa em Sainte Anne de Beaupré, o papa assegurou que a Igreja levanta "questões polêmicas [...] em seu difícil e exigente caminho de cura e reconciliação".

Ao nos depararmos com o escândalo do mal e do Corpo de Cristo ferido na carne de nossos irmãos e irmãs indígenas, também experimentamos profunda consternação; também sentimos o peso do fracasso", disse. Por que aconteceu tudo isso? Como pôde acontecer tal coisa na comunidade dos que seguem Jesus?", acrescentou.

Esta tarde, o pontífice pronunciará uma homilia na catedral de Notre-Dame de Québec. Na sexta-feira (29), o último dia de sua viagem, fará uma parada em Iqaluit, no território ártico de Nunavut.

A província francófona de Québec é a que conta com o maior número de católicos do Canadá, mas o comparecimento dos fiéis tem sido menor do que o esperado desde o início da visita, no contexto de uma Igreja em declínio.