Cinema de animação

Animações pernambucanas mostram força criativa e ganham espaço no mercado nacional

Produções com DNA pernambucano, "Além da Lenda" e "Mundo Bita" ganham as telas do cinema, TV e streaming de todo o Brasil

Primeira série do Mundo Bita, "Imagine-se", estreia na HBO Max e no canal Cartoonito - Divulgação

Nos próximos dias, duas animações com DNA pernambucano chegam às telas do cinema, TV e streaming de todo o Brasil. “Além da Lenda”, primeiro longa-metragem animado produzido no Estado, estreia nacionalmente no dia 4 de agosto, com sessão de pré-estreia neste sábado, às 15h, no Cinema do Porto. Já no próximo dia 1º, o Mundo Bita lança sua primeira série, “Imagine-se”, na plataforma HBO Max e no canal pago Cartoonito.

Mercado em potencial
Esses são dois exemplos do potencial criativo da animação em Pernambuco, que teve na última década o seu momento mais profícuo. Apesar dos bons frutos, essa produção luta para se firmar frente ao cenário nacional e, em comparação ao cinema live-action (com atores reais) feito por aqui, ainda tem muito chão a percorrer.

Animação "Além da Lenda"                  Crédito: Divulgação

 

Mas o explica um Estado conhecido por filmes premiados ao redor do mundo só agora ter um longa de animação para chamar de seu? Marcos Buccini, animador e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), explica que o crescimento dessas duas linguagens audiovisuais não ocorreu de forma igualitária por aqui. Uma das razões é que elas assumem lógicas de produção completamente distintas.

Primeiros trabalhos
“Uma obra de animação é muito mais custosa, demanda mais tempo, tecnologia e trabalhadores especializados”, aponta Buccini, que é autor do livro “História do Cinema de Animação em Pernambuco”, lançado em 2017. Ele afirma que, historicamente, a animação no Estado ainda é recente. A primeira experiência documentada é uma animação simples, com cinco minutos de duração e características de cinema underground: “Ver/Ouvindo”, de Lula Gonzaga, em 1972.

Ainda nos anos 1970, durante o Ciclo do Super 8 no Recife, outros nomes também se aventuraram pelos caminhos da animação, como o cineasta Fernando Spencer e o artista visual Paulo Bruscky. Em 1979, morando no Rio de Janeiro, Lula Gonzaga lança o curta “Saga da Asa Branca”, que por um bom tempo seria o filme animado feito por um pernambucano com maior repercussão.

“Era muito difícil fazer animação com tecnologia analógica. Só com o digital é que a gente teve uma geração de animadores em Pernambuco. Esse know-how começou a surgir nos anos 2000 e, a partir de 2005, veio o boom de produções animadas por aqui”, comentou. Curtas como “A Morte do Rei de Barro”, do próprio Buccini, e “Até o Sol Raiá”, primeira animação em 3D do Estado, são alguns exemplos deste final de década.

Incentivos financeiros
Uma maior abertura para trabalhos de animação em editais de financiamento estaduais e federais ajudou a expandir o mercado local na década passada.

Com isso, surgiram séries para a TV, como “Bia Desenha” e “Bela Criativa”. Paralelamente, sem incentivo público, a empresa Mr. Plot gestava o fenômeno infantil “Mundo Bita”, projeto musical com clipes que ultrapassam a faixa dos bilhões de visualizações no YouTube e que agora leva os seus personagens para o campo da dramaturgia.
 

"Bia Desenha"                                                                             Crédito: Divulgação

A produtora Viu Cine, responsável por títulos como “Além da Lenda” e “Pedrinho e a Chuteira”, é uma das mais atuantes no campo da animação em Pernambuco, chegando a criar, em 2020, uma escola para a formação de profissionais da área. Ulisses Brandão, diretor da empresa, aponta a complexidade do atual momento para quem atua no ramo.

“A animação acabou indo um pouco na contramão da crise. Enquanto os sets de filmagem tiveram que parar na pandemia, os trabalhos de animação só precisaram de um computador com internet para continuar. Juntando o real barato com a qualidade dos estúdios brasileiros, muitas produções estrangeiras passaram a ser animadas no Brasil como um todo, e Pernambuco acompanhou isso. O problema tem sido encontrar um equilíbrio entre os trabalhos de execução e a produção de conteúdo próprio, que tem sofrido com o subfinanciamento público”, pondera.