Guerra na Ucrânia

Ucrânia e Rússia trocam acusações sobre ataque contra prisioneiros de guerra

Presidente ucraniano classifica ataque que deixou mais de 50 mortos como 'crime de guerra'

Presidentes de Rússia e Ucrânia, Vladimir Putin e Volodimir Zelensky - Handout/Russian Presidential Press Office/AFP e Ukraine Presidency/AFP

Ucrânia e Rússia se acusaram mutuamente, nesta sexta-feira (29), de bombardear uma prisão onde prisioneiros de guerra ucranianos eram mantidos por separatistas russos, um ataque que, segundo o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, deixou mais de 50 mortos e pode ser classificado como "um crime de guerra".

Previamente, o Ministério da Defesa russo afirmou que o ataque foi realizado com mísseis de longo alcance fornecidos à Ucrânia pelos Estados Unidos.

Essa "sangrenta provocação do regime de Kiev" pretendia impedir as tropas ucranianas de deporem suas armas e se renderem, disse Moscou.

A Rússia afirmou que entre os mortos encontram-se membros do batalhão Azov, uma divisão que ganhou notoriedade por defender o porto ucraniano de Mariupol (sul) diante do avanço das tropas russas.

No entanto, Zelensky acusou diretamente Moscou pelo ataque na região ocupada de Olenivka.

"É um crime de guerra russo deliberado, um assassinato de massa deliberado de prisioneiros de guerra ucranianos. Mais de 50 mortos", afirmou o mandatário ucraniano em seu discurso diário.

Zelensky indicou que um acordo para que os combatentes do batalhão Azov deponham as armas, sob os auspícios da ONU e da Cruz Vermelha, inclui garantias para sua segurança e saúde, e pediu que ambas as entidades intervenham como garantidoras.

Os integrantes do batalhão se renderam em maio, após um longo e intenso assédio russo contra Mariupol.

Zelensky também pediu para que a comunidade internacional, em especial os Estados Unidos, declarem a Rússia como Estado patrocinador do terrorismo


Anexação inaceitável

Enquanto isso, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, conversou nesta sexta-feira com o colega russo, Sergey Lavrov, pela primeira vez desde o início da guerra, e alertou Moscou de que não reconheceria uma anexação russa do território ucraniano.

"Foi muito importante para os russos ouvir diretamente de nós que não será aceito - e não apenas não será aceito, mas resultará em custos adicionais para a Rússia se fizerem isso", revelou Blinken a repórteres em Washington.

Horas antes, Zelensky visitou o porto ucraniano de Chornomorsk, no sul da Ucrânia, para supervisionar o carregamento de um navio com grãos para exportação, sob um plano apoiado pela ONU para transportar os cereais encalhados em função de um bloqueio naval russo.

Segundo a presidência ucraniana, as exportações poderão ser retomadas "nos próximos dias".

Em outro impacto econômico da guerra, a agência de classificação financeira S&P rebaixou a dívida de longo prazo da Ucrânia em três graus para CC.

"A Ucrânia pediu a seus credores estrangeiros que adiassem os pagamentos de toda a sua dívida externa por 24 meses", disse a S&P em comunicado. "Após este pedido, achamos que um calote da dívida soberana em moedas estrangeiras é quase uma certeza", disse a agência.

- Crime de guerra horrendo" -

Após o ataque à prisão, a televisão estatal russa mostrou o que pareciam ser celas destruídas. Não foram vistas vítimas nas imagens.

O exército ucraniano negou ter realizado o ataque e afirmou que suas forças "não lançaram ataques de mísseis nem artilharia na região de Olenivka".

Kiev culpou as tropas russas pelo ataque e afirmou que Moscou tinha como objetivo "acusar a Ucrânia de ter cometido crimes de guerra para encobrir as torturas dos prisioneiros e as execuções que realizaram" na prisão.

"A Rússia cometeu outro crime de guerra horrendo", denunciou o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, no Twitter.

A Ucrânia afirmou que capturou milhares de militares russos durante a invasão e começou a julgá-los por crimes de guerra.

Nesta sexta-feira, um tribunal ucraniano reduziu para 15 anos de prisão a sentença de prisão perpétua imposta a um soldado russo condenado em maio por matar um civil na Ucrânia.

- Ataques em Mykolaiv -

No terreno, no sul da Ucrânia, ao menos cinco pessoas morreram, e sete ficaram feridas, após um bombardeio russo que atingiu um ponto de ônibus na cidade de Mykolaiv, perto do Mar Negro, segundo o governador regional Vitaly Kim.

Mykolaiv é o maior centro urbano controlado pela Ucrânia perto das linhas de frente na região de Kherson, onde os militares ucranianos lançaram uma contra-ofensiva para recuperar o controle do território costeiro de importância econômica e estratégica.

Mais da metade da população desta cidade de 500.000 habitantes fugiu desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.

A presidência ucraniana disse, nesta sexta-feira, que os ataques russos na mesma cidade atingiram um ponto de distribuição de ajuda humanitária no dia anterior, ferindo três pessoas. 

Na região leste de Donetsk, o governador Pavlo Kyrylenko informou que as forças de Moscou mataram oito pessoas e feriram 19 em ataques na quinta-feira.