Morre, aos 61 anos, cronista e poeta Miró da Muribeca
A informação foi divulgada no perfil oficial do artista nas redes sociais
O poeta e cronista pernambucano João Flávio Cordeiro da Silva, mais conhecido como Miró da Muribeca, morreu neste domingo (31), aos 61 anos. A informação foi divulgada no perfil oficial do artista nas redes sociais. Não há notícias sobre a causa da morte.
"Comunicamos a todos os amigos, fãs e seguidores, que nosso poeta Miró da Muribeca encantou-se nesta manhã de domingo. Em breve, daremos mais informações sobre a cerimônia de despedida. Pedimos desculpas se não conseguirmos responder às manifestações de pesar", disse o comunicado nas redes sociais.
"Miró é um dos poetas mais importantes do Brasil na contemporaneidade. Um poeta que tem uma obra já reconhecida no Brasil, inclusive, ele faz parte da exposição permanente do Museu da Língua Portuguesa. Já foi traduzido para outros idiomas. É um dos poetas cuja a obra se confunde com a vida dele. É um poeta nato. Ele nasceu poeta", afirmou o escritor, editor e amigo, Wellington de Melo, informando que Miró lutava contra um câncer há dois anos.
"Um câncer agressivo e já em metástase. Ele faleceu pela manhã. O cuidador identificou que os sinais vitais dele não estavam presentes. Ele faleceu dormindo, num local que ele gostava (Hotel Central, no Recife). Miró estava prestes a fazer 62 anos. Ele ia completar no dia 6 de agosto", informou Melo, que está produzinho, junto à Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), a biografia do poeta, ainda sem data para lançamento.
O velório começa neste domingo, às 16h, na capela central do Cemitério de Santo Amaro, região central do Recife. O enterro será nesta segunda (1º), às 11h, no mesmo cemitério.
Em maio deste ano, Miró foi internado em um hospital público do Recife, em decorrência de problemas de saúde. Na época, o quadro de saúde dele era estável, apesar de estar debilitado.
Entrevista
Em conversa com a Folha de Pernambuco, em outubro do ano passado, Miró da Muribeca esbanjou satisfação por estar de volta à rotina de escritor e "fazedor de arte". "Estou tão feliz em falar sobre meu renascimento, olhar alguém nos olhos, conversar", enalteceu ele.
Na ocasião, Miró veio à redação acompanhado de uma cuidadora enviada pela clínica de reabilitação em alcoolismo onde ele estava internado. De lá, ele contou sobre sua rotina e entre outros afazeres, estava a poesia que lhe acompanhava em meio a leituras que estava fazendo de Drummond e a própria escrita que fazia dos seus versos.
"Lá escrevo e leio todo dia, Drummond e Ignácio de Loyola Brandão", contou ele que projetando o futuro, bradou sobre o livro "O Céu é no 6 Andar" (Claranan) e o seu desejo de capa da biografia que estaria por vir. "Penso em uma capa com minha imagem no canto e o título 'Ainda Estou Aqui'.
Pesar:
Prefeitura do Recife:
Por meio de nota, a Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura Cidade do Recife lamentaram a morte de Miró.
"As ruas, esquinas e noites do Recife perdem um bocado de poesia e sentido neste domingo. A Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura Cidade do Recife lamentam a morte do poeta Miró da Muribeca e o silêncio pesaroso de tudo que ele ainda havia de dizer.
Poeta contundente, de obra pavimentada no cotidiano urbano, Miró nasceu João Flávio Cordeiro da Silva, em agosto de 1960, mas ganhou a Muribeca como alcunha nos campos de futebol da infância, numa alusão ao então craque Mirobaldo, do Santa Cruz.
Ainda mais hábil com as palavras que com a bola, virou poeta. Entre o lirismo e a periferia, escolheu os dois. Subverteu a rima e cunhou uma estética poética popular, urbana, periférica, negra e social, que levou Miró até para fora do Brasil.
Homenageado pela Prefeitura do Recife na 16ª edição do Festival A Letra e a Voz, em 2018, Miró agora se encanta em verso e prosa, deixando muda a cidade, toda esquina e toda ponte, ainda atravessadas pela poesia que ele inscreveu para sempre na geografia que cada um carrega no peito."
Cepe:
A Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) também emitiu uma nota de pesar.
"A Companhia Editora de Pernambuco (Cepe) lamenta o falecimento do grande poeta e cronista pernambucano João Flávio Cordeiro da Silva, mais conhecido como Miró da Muribeca (06/08/1962 a 31/07/2022). Considerado um dos poetas brasileiros mais importantes da atualidade, Miró faleceu aos 61 anos. Reconhecedora do grande trabalho do poeta, a editora pública pernambucana lançou duas de suas últimas obras, o infantil Atchim! (2019) e Miró até agora (2016). Este último é sucesso editorial do catálogo da Cepe, com várias reimpressões.
O presidente da Cepe, o jornalista Ricardo Leitão, declara que foi uma grande honra publicar os livros de Miró. “Registrar sua poesia forte e de cunho social foi um compromisso da editora. Seu trabalho foi uma importante contribuição para a poesia brasileira”, diz o presidente da Cepe.
O editor da Cepe, o jornalista Diogo Guedes, que também lamenta o falecimento do poeta, afirma que “Miró, como poucos, trouxe a poesia para o seu próprio corpo e sua própria voz. O atestado da força dos seus poemas é a forma como reverberam em páginas, telas, vídeos, ao vivo - uma experiência sempre inesquecível”, relata Diogo, adiantando que a editora está com duas publicações de Miró em processo de produção: uma biografia e uma obra reunida com poesias inéditas.
Artista de rua, Miró foi um dos poetas brasileiros mais importantes da atualidade, segundo o escritor Wellington de Melo, ex-editor da Cepe. “Um cara que construiu uma obra respeitável ao longo desses anos”, resume Wellington. Desde 1984, Miró viveu exclusivamente de sua poesia. “É uma perda muito grande, mas a gente sabe que, no final das contas, o que fica é a obra. E graças ao trabalho de editoras como a Cepe, essa obra pode ser perpetuada, e vai continuar atingindo novos públicos porque Miró foi um poeta que sempre conseguiu se conectar com novos públicos. E isso é muito importante”, afirma o escritor".