Diplomacia

Irã retorna a Viena para negociações sobre seu programa nuclear

O Ministério das Relações Exteriores anunciou, nesta quarta-feira (3), que uma delegação iraniana irá para Viena para continuar as discussões

Bandeira do Irã - Divulgação

O Irã anunciou, nesta quarta-feira (3), que está disposto a retomar em Viena as negociações sobre seu programa nuclear supervisionadas pela União Europeia (UE).

"A caminho de Viena para discutir o retorno à plena aplicação do JCPOA", tuitou o coordenador da UE, Enrique Mora, em referência às siglas do acordo internacional de 2015 destinado a impedir que Teerã se equipe com uma arma nuclear.

O Ministério das Relações Exteriores do Irã também anunciou nesta quarta-feira que uma delegação iraniana irá para Viena para continuar as discussões sobre seu programa nuclear.

"No âmbito da política de suspensão das cruéis sanções contra o nosso país, a equipe liderada por Ali Bagheri, o negociador-chefe da República Islâmica, viajará para Viena em poucas horas", afirmou o porta-voz da Chancelaria iraniana, Nasser Kanani.

O enviado dos Estados Unidos nas conversas com o Irã, Rob Malley, também anunciou nesta quarta-feira sua viagem a Viena.

"Nossas expectativas são medidas, mas os Estados Unidos saúdam os esforços da UE e estão prontos de boa-fé para tentar chegar a um acordo", tuitou Malley.

As negociações entre o Irã e as grandes potências para retomar o acordo internacional sobre o programa nuclear iraniano de 2015 se encontram em ponto morto desde março, após um ano de negociações. 

Em 26 de julho, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, apresentou um projeto para chegar a um entendimento no tema e pediu às partes envolvidas que o aceitassem para evitar uma "crise perigosa". 

Na segunda-feira (1º), o Irã se mostrou "otimista" sobre uma possível retomada das discussões, após examinar a proposta de Borrell. 


"Nada garantido" 

"Neste ciclo de negociações, que acontecerá, como antes, com a coordenação da UE, as discussões vão girar em torno das ideias apresentadas pelos participantes, sobretudo, aquelas apresentadas esta semana pelo Irã para a outra parte", afirmou o porta-voz do Ministério, Naser Kanani, em nota.

A AFP entrevistou um diplomata europeu baseado em Viena que celebrou "a reunião que mostra a vontade de todos de avançar". 

"É positivo, mas ao mesmo tempo não há absolutamente nada garantido", alertou. "Levamos meses tentando concluir as negociações". 

"As expectativas são modestas para esta nova rodada", disse Henry Rome, especialista em Irã da consultoria americana Eurasia Group. 

Ele explicou que há "diferenças" entre Estados Unidos e Irã "em vários temas-chave": as sanções que devem ser levantadas, o pedido de garantias por parte de Teerã e o encerramento de uma investigação da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) da ONU. 

Segundo Ali Vaez, da organização de prevenção de conflitos International Crisis Group, a volta das negociações se explica porque "as outras opções são pouco atrativas, por isso, nenhuma das partes está disposta a encerrar as discussões".

O JCPOA foi firmado entre Irã e as seis potências (Rússia, Estados Unidos, China, França, Reino Unido e Alemanha) e tem como objetivo garantir o caráter civil do programa nuclear iraniano. Teerã é acusado de querer se equipar com armas nucleares, mas nega.

No entanto, com a saída unilateral do acordo dos Estados Unidos em 2018, sob o governo de Donald Trump, e o restabelecimento das sanções americanas, Teerã deixou progressivamente de cumprir suas obrigações. 

O país islâmico aumentou a taxa de enriquecimento de urânio de 3,67% fixada pelo JCPOA, passando a 20% no início de 2021. Assim, superou o limite sem precedentes de 60%, se aproximando dos 90% necessários para fabricar uma bomba, enquanto limitava o acesso a investigadores da AIEA.