Banco Central promove 12ª alta seguida nos juros e Selic chega a 13,75% ao ano
Com nova elevação, a taxa básica de juros volta ao nível de novembro de 2016
O Banco Central (BC) decidiu elevar a taxa básica de juros, a Selic, de 13,25% para 13,75% ao ano nesta quarta-feira (3). Essa é a 12ª alta seguida e coloca os juros no mesmo patamar de novembro de 2016. A alta nos juros deve aumentar a atração da renda fixa.
Para a próxima reunião, em setembro, o BC disse que vai avaliar a necessidade de uma nova alta "residual" em menor magnitude. Esse movimento provavelmente será de 0,25 ponto percentual (p.p), elevando a Selic para 14%.
Para Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos, o BC sinalizou a intenção bem clara de encerrar o ciclo de alta de juros em 13,75% ou em 14%. A aposta de Sobral é de mais uma elevação de 0,25 p.p.
— Ele falou que pode ser que mais um ajuste, no singular, de menor magnitude caso seja necessário, Então ele tá no cenário base fechando bem o leque de possibilidades, tirou da frente dar uma alta de 0, 50 ponto percentual a não ser que alguma coisa extraordinária aconteça daqui até setembro — disse o economista.
A trajetória de elevações na Selic começou em março de 2021, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC elevou a taxa de 2%, a mínima histórica, para 2,75% ao ano. A movimentação tem como objetivo controlar a inflação, que acumula alta de 11,39% em 12 meses.
Ao sinalizar mais um aumento, o Copom afirmou que "seguirá vigilante" e que os passos futuros da taxa básica de juros poderão ser ajustados a depender da conjuntura econômica.
"O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista", diz o comunicado.
Risco fiscal
No comunicado, o Copom ainda ressaltou que há fatores que podem elevar ou rebaixar o índice de inflação. No caso da alta, dois pontos foram destacados, uma maior persistência da inflação global e a "incerteza" sobre o futuro do arcabouço fiscal e de estímulos sobre a demanda.
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Neste ponto, o BC fez um alerta sobre a possibilidade de tornar permanentes medidas fiscais de estímulo à demanda. Na avaliação do Copom, isso "acentua os riscos de alta para o cenário inflacionário".
Desde da aprovação da PEC Eleitoral com o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, há uma discussão política e eleitoral sobre a viabilidade de diminuir esse valor para R$ 400 no fim do ano, como já está previsto.
Tanto a campanha de Lula e quanto o presidente Jair Bolsonaro, os dois candidatos que lideram as pesquisas para presidente, já sinalizaram que o valor deve continuar no próximo ano.
Alessandra Ribeiro, sócia e diretora da área de Macroeconomia e Análise Setorial da Tendências Consultoria, acredita que a Selic chegará a 14% neste ano e vê uma elevação no tom em relação ao risco fiscal no comunicado.
Segundo a economista, o risco não seria só de extensão do Auxílio Brasil, mas de outros benefícios previstos na PEC Eleitoral, como o vale-gás e o vale-caminhoneiro.
— O auxílio tem um peso relevante, mas todas as outras também porque no fundo elas acabam sendo medidas de suportar a demanda. Seja por um voucher, ou se você mantém a redução do preço do combustível, a renda disponível das famílias melhora, então você acaba sustentando a demanda, o que dificulta ainda mais o trabalho do Banco Central de controlar a inflação — destacou.
Por outro lado, o Copom também avalia que o aumento do risco da desaceleração global da economia, com juros mais altos ao redor do mundo, eleva também as chances da inflação diminuir.
Longe da meta
Com mais essa alta, o Copom visa colocar a inflação de 2023 na meta de 3,25%. Para este ano, o BC já jogou a toalha e não deve atingir a meta de 3,50%, nem no intervalo de tolerância que tem o piso de 2% e o teto de 5%.
O descumprimento pelo segundo ano consecutivo deve acontecer porque o efeito das altas na Selic demoram de seis a nove meses para chegar na economia real. Ou seja, uma elevação de agosto, só começará a fazer efeito no segundo trimestre do ano que vem.
As projeções do Copom são de inflação em 6,8% em 2022, 4,6% em 2023 e 2,7% em 2024, portanto cumprindo a meta dentro do intervalo de tolerância nos dois próximos anos. Esse cenário supõe Selic em 13,75% neste ano, 11% no ano que vem e 8% em 2024.
Com a elevação na Selic, o Copom também tem a intenção de impactar nas expectativas de inflação do mercado. Nesta semana, bancos e corretoras elevaram suas projeções pela 17ª semana seguida e já esperam inflação de 5,33% para o ano que vem, número que estouraria novamente o teto da meta.
A economista para Brasil do BNP Paribas, Laiz Carvalho, ainda espera que o Banco Central continue subindo os juros para além do que já foi sinalizado, elevando a Selic para 14,25% ainda em 2022. Ela explica que as expectativas de inflação do mercado devem continuar subindo e vão pressionar o BC nesse sentido.
— Essa é a 17ª semana que as expectativas do mercado para 2023 sobem e a gente acredita que vão continuar subindo dada toda a incerteza que estamos vendo e como 2023 ainda está no horizonte de tempo do BC e a gente sabe que as expectativas mais altas de 2023 vão acabar passando para 2024, achamos que cenário vai acabar se sobrepondo à intenção do Banco Central de parar — afirmou.
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O Copom também destacou no comunicado que a meta de 2023 continua sendo o objetivo principal. Em conjunto, afirmou que as mudanças tributárias neste ano e no próximo, há redução temporária em alguns impostos sobre combustíveis, afetam bastante as projeções de inflação e por isso escolheu dar uma ênfase maior na inflação acumulada de 12 meses terminados no primeiro trimestre de 2024.
Segundo Ribeiro, da Tendências Consultoria, o BC não abandonou a meta de 2023 e sim utilizou esse cálculo para medir melhor o efeito dos juros.
— Entendo que não é um abandono de 2023, mas o que seria uma inflação real em 2023 se não tivesse o efeito tributário. Vai estar acima da meta, eu preciso agir de qualquer forma, mas isso me dá um balizamento melhor sobre o ajuste que eu tenho que fazer de política monetária fora os ajustes tributários — afirmou.