Literatura

Laurentino Gomes lança livro e ministra conferência no Recife

Escritor, jornalista e historiador apresentou, nesta quinta-feira (4), o terceiro volume da série de livros "Escravidão", no auditório Benício Dias da Fundação Joaquim Nabuco, em Casa Forte

O escritor, jornalista e historiador Laurentino Gomes - Paullo Almeida / Folha de Pernambuco

A manutenção da estrutura econômica e social escravocrata, mesmo após o fim do período colonial do País, é o assunto do terceiro volume da série de livros "Escravidão", do escritor, jornalista e historiador Laurentino Gomes, lançado no Recife, nesta quinta-feira (4), no auditório Benício Dias, do Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, em Casa Forte, onde o autor também ministrou a conferência “A escravidão e o seu legado no Brasil de hoje’, prestigiada por personalidades locais de peso, a exemplo do presidente do Grupo EQM, Eduardo de Queiroz Monteiro

Abolição precisa ser completada
Em seu novo livro, o autor aborda o período compreendido entre a Independência do Brasil à Lei Áurea, no século XIX, fato histórico que marcou uma abolição formal, mas manteve o pensamento escravocrata. “O rigor da pesquisa dos textos, as suas fontes, marcam a obra de Laurentino, consagrada no Brasil e no exterior. Seu último livro se detém aos últimos 70 anos, da independência à Lei Áurea, e traz importantes relatos. O Brasil foi o maior território escravista do hemisfério ocidental durante 350 anos. Importou cerca de cinco milhões de negros da África e resistiu a fazer a abolição, sendo o último país da América a fazê-la. Uma abolição formal que precisa ser completada”, destaca o presidente da Fudação Joaquim Nabuco, Antônio Campos.

O legado da escravidão
Laurentino lança um olhar crítico sobre a abolição da escravidão no País que, além de tardia, não trouxe uma real democracia racial. “O Brasil foi o último país a acabar com o tráfego negreiro em 1850 e o último país a acabar com a escravidão, em 1888. Falo do movimento abolicionista e desse personagem extraordinário que foi Joaquim Nabuco, mas também dos outros abolicionistas negros (José do Patrocínio, Luiz Gama e André Rebouças) e, por fim, falo do legado da escravidão, o 14 de maio, o dia seguinte, do abandono e do esquecimento, que nos persegue até hoje”, avalia Laurentino.

“Essa segunda abolição jamais foi feita e, enquanto ela não acontecer, o Brasil nunca vai ser um país decente, digno dos nossos sonhos. Quem tiver um olhar atento vê a escravidão na realidade brasileira hoje. O Brasil é um dos países mais segregados do mundo. Ele é segregado na paisagem - se você olha as grandes metrópoles, quem mora nos bairros de boa qualidade de vida e bem assistidos pelo Estado? Majoritariamente a população branca descendente de colonizadores europeus. E quem mora naqueles bairros insalubres e abandonados pelo Estado brasileiro, às vezes dominados pelo crime organizado? A população descendente de escravos. Então, é uma segregação na geografia brasileira”, pontua o autor.

Em mais de 500 páginas, o volume III de “Escravidão” dá sequência ao trabalho de Laurentino Gomes que começou a chegar ao público em 2019 com a 1ª publicação. Ele mergulha no cenário da Independência, pelos primeiro e segundo reinado, chegando nos movimentos abolicionistas e na assinatura da Lei Áurea, em 1888, quando o Brasil se tornou o último país da América a extinguir a escravidão. 

Já “1822” volta às livrarias em edição especial. No livro, o autor se empenha em desmistificar todo o processo político que trouxe a Independência do Brasil. A nova edição conta com ensaios dos historiadores Heloisa Murgel Starling, Jean Marcelo Carvalho França e Jurandir Malerba.

Conferência aconteceu no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, em Casa Forte (Foto: Paullo Almeida / Folha de Pernambuco)

Sobre o autor
Laurentino Gomes vem da cidade de Maringá, no Paraná, formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. Venceu sete vezes o prêmio Jabuti, o mais importante da literatura nacional. Além de "Escravidão" e "1822", é autor dos livros "1808", sobre a fuga da família real portuguesa para o Brasil, "1889", sobre a Proclamação da República e "Caminhos do Peregrino", escrito em coautoria com Osmar Ludovico da Silva. Sua obra traz uma densa pesquisa historiográfica e o coloca como uma das principais referências na difusão da história do Brasil.

SERVIÇO
"Escravidão", Globo Livros
Preço médio: R$ 59