Presidente do Bradesco não vê consignado do Auxílio Brasil como uma boa operação
Banco decidiu ficar fora dessa linha de crédito, que não tem teto para juros
O Bradesco, segundo maior banco privado do país, não vai oferecer empréstimo consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil. O presidente da instituição, Octavio de Lazari Junior, afirmou que como se trata de uma operação de juros elevados (sem teto estabelecido) e o benefício oferecido pelo governo tem data para terminar (dezembro deste ano), ou seja é temporário, o Bradesco decidiu não operar nesse segmento.
"Não se trata de uma aposentadoria ou pensão, mas um benefício a pessoas que estão em dificuldades. Portanto, o Bradesco não vai operar nessa carteira. Estamos falando de pessoas vulneráveis. Em vez de ser uma boa operação para o banco e para o cliente, entendemos que a pessoa terá mais dificuldade quando o benefício cessar - disse Lazari, durante apresentação dos resultados do Bradesco no segundo trimestre, quando apresentou lucro líquido de R$ 7,04 bilhões, crescimento de 3,2% em relação ao trimestre anterior e de 11,4% na comparação com o mesmo período de 2021.
Nos últimos três meses, o Bradesco registrou um aumento de inadimplência de 0,3 pontos percentuais, acima de 90 dias, especialmente entre as micro e pequenas empresas e pessoas físicas. O banco informou que realizou ajustes em seus modelos de crédito, o que na prática, significa que a concessão de crédito ficou mais rígida.
"Ninguém consegue prever onde vai chegar o índice de inadimplência. Este é um momento de maior dificuldade (com juros altos, inflação). Tivemos que ajustar nossos modelos de crédito. A Selic não é mais 2%, mas quase 14%. Esse ajuste, exclui pessoas que poderiam ter crédito", disse Lazari.
Analistas da Ativa Investimentos avaliaram que a inadimplência no Bradesco ficou um pouco acima das expectativas. O aumento das provisões acabou sendo 2,9% maior do que os analistas esperavam, o que é "extremamente relevante para os resultados futuros do banco".
Lazari lembrou que, antes da pandemia, as provisões para perdas eram de R$ 36 bilhões. Atualmente, estão em R$ 48 bilhões, R$ 12 bilhões a mais. Mesmo assim, a expectativa de crescimento da oferta do crédito no Bradesco, este ano, é de entre 10% e 14% este ano. No primeiro semestre, o crescimento foi de 17,7%.
"Devemos crescer em ritmo mais moderado. Mas temos provisões para cobrir aqueles clientes que não conseguiram pagar. A inadimplência é um ciclo normal que a gente passa. Não se pode olhar em apenas um trimestre, mas um período maior, de um a dois anos", explicou Lazari.
Para o segundo semestre, Lazari observa que a taxa de juros "já tenha chegado ao teto", e o país gere mais empregos, e as pessoas tenham mais renda. A inflação e a alta do dólar também não devem ter mais uma subida expressiva, prevê ele. Além disso, o pagamento do Auxílio Brasil, especialmente a população mais vulnerável, traz um alívio para o bolso
"Essas variáveis macroeconômicas terão mais equilíbrio e a taxa de inadimplência fica mais acomodada - disse o presidente do Bradesco, prevendo que o cenário econômico será mais sereno no segundo semestre, mesmo com eleições e Copa do Mundo".
Manifesto pela democracia
Lazari assinou como pessoas física o manifesto da federação das Indústrias do estado de São Paulo (Fiesp), que está sendo divulgado nesta sexta-feira.
- Foi uma posição pessoal em defesa da democracia. O teor do manifesto é sereno e vai na direção de que todo brasileiro gostaria: a defesa da democracia, que é nosso grande patrimônio - afirmou.
Ele observou que a decisão da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) em assinar o manifesto pela democracia da Faculdade de Direito da USP foi tomada de forma democrática, em votação. O conselho Diretor da entidade convocou os bancos e quem não estava confortável em aderir, votou pela não adesão. Caixa e Banco do Brasil votaram contra a assinatura.