Cientistas desenvolvem embriões sintéticos sem espermatozóides, óvulos ou fertilização
No entanto, a perspectiva para implementá-la no desenvolvimento de órgãos humanos permanece distante e polêmica
Pesquisadores de células-tronco afirmam ter criado pela primeira vez "embriões sintéticos" sem espermatozóides, óvulos ou fertilização. O experimento foi realizado por cientistas do Instituto de Ciência Weizmann, em Israel, e publicado nesta semana na revista científica Cell. O recente avanço foi realizado com camundongos e demonstrou resultados sem precedentes no desenvolvimento da técnica.
No entanto, a perspectiva para implementá-la no desenvolvimento de órgãos humanos permanece distante e polêmica.
“Os embriões sintéticos se formaram sozinhos, a partir de células-tronco colocadas fora do útero", resume o trabalho publicado numa das maiores revistas científicas de biologia. A pesquisa buscou desenvolver estruturas próximas ao embrião em laboratório, extraindo células simples de um animal e agindo sobre elas sem nenhum procedimento de fertilização.
Os cientistas conseguiram desenvolver estruturas semelhantes a um embrião de camundongo de oito dias, ou seja, um terço da gestação, momento em que os órgãos começam a se diferenciar. Para isso, extraíram células da pele dos camundongos e depois as reverteram artificialmente ao estado de células-tronco, que são unidades capazes de se transformarem em qualquer célula do corpo e, portanto, de formar diferentes órgãos.
Elas foram colocadas em um banho de nutrientes, constantemente agitadas e alimentadas com oxigênio para reproduzir o mais próximo possível as condições de um útero materno. Como resultado, uma pequena parte das células se organizaram, a partir de informações próprias, para formar órgãos.
É um avanço nunca visto, mas não se trata da descoberta da vida artificial. Na maioria dos casos, a experiência não deu certo e, mesmo quando foi bem-sucedida, o resultado foi um conjunto malformado demais para ser confundido com um embrião verdadeiro. Alguns cientistas nem mesmo aprovam o termo "embrião sintético".
— Não são embriões. Até que se prove o contrário, eles não produzem um indivíduo viável capaz de se reproduzir — diz o pesquisador francês Laurent David, especialista em desenvolvimento de células-tronco.
O pesquisador, que prefere o termo “embrioides”, destacando que eles apresentam apenas "esboços" de órgãos. No entanto, elogia o trabalho "novo e muito atraente", com potencial para realizar experimentos para entender melhor como os órgãos se desenvolvem.
Esses experimentos são cruciais para que as células-tronco possam um dia se desenvolver e formar membros do corpo humano que possam ser transplantados sem ter que precisar retirá-los de um doador. Não se trata mais apenas de uma possibilidade teórica, defendem os pesquisadores.
Há anos, cientistas conseguiram desenvolver um intestino artificial em laboratório que funcionou uma vez implantado em um camundongo. Em humanos, essa perspectiva continua sendo ficção científica, embora Jacob Hanna, responsável pelo novo estudo, acredite que sua pesquisa abre o caminho diretamente para esse avanço. E, para isso, fundou uma startup, a Renewal.
Outros investigadores consideram que ainda é cedo para pensar em avanços terapêuticos, embora admitam que esta investigação constitui um tijolo importante nesta construção. Mas alertam que o próximo passo lógico será obter resultados semelhantes a partir de células humanas, abrindo caminho para questões éticas sobre o status que deve ser dado a esses "embrioides".
— Embora ainda estejamos longe da perspectiva dos embriões humanos sintéticos, será fundamental realizar amplos debates sobre as implicações legais e éticas dessa pesquisa — resume o pesquisador britânico James Briscoe, especialista em desenvolvimento embrionário do Science Media Center.