Mas, afinal, o que é deflação? E por que, no Brasil, situação atípica terá efeito limitado?
Inflação ficou negativa em julho refletindo a queda nos combustíveis, mas alívio será temporário. E efeito não é sentido por todos: para os mais pobres, alimentos em alta pesam no orçamento
Em julho, pela primeira vez desde maio de 2020, ou seja, desde o início da pandemia de coronavírus, o Brasil teve deflação. O número oficial o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) será divulgado nesta terça-feira pelo IBGE, mas analistas dão como certo que será negativo.
Mas, afinal, o que é uma deflação? Em que situações ela ocorre? E que efeitos terá no bolso do brasileiro?
A deflação é quando, em vez de subirem, os preços da economia, na média, são reajustados para baixo. Ou seja, o índice de inflação fica negativo.
Economistas explicam que isso normalmente ocorre quando há uma anomalia na economia, uma situação atípica - como foi, em 2020, quando vários países do mundo, inclusive o Brasil, fizeram quarentenas para conter as mortes por coronavírus.
Há situações também em que os países enfrentam deflações históricas, como no caso do Japão, que, após uma crise nos anos 1990, enfrentou mais de 20 anos de quedas seguidas nos preços, o que acabou prendendo o país numa armadilha de baixo crescimento – como esperavam sempre que haveria um alívio no custo de vida, os japoneses postergavam suas compras, derrubando o consumo e a atividade econômica.
No Brasil, em julho, a deflação foi consequência direta de uma mudança no ICMS de combustíveis e energia elétrica. O projeto do governo do presidente Jair Bolsonaro, aprovado pelo Congresso no fim de junho, criou um teto para as alíquotas de ICMS desses produtos com o objetivo de reduzir os preços da gasolina e da conta de luz às vésperas das eleições.
Como os combustíveis e a energia elétrica tiveram queda de preço e esses itens têm forte peso na inflação medida pelo IBGE, o resultado foi que, na média, o índice ficou negativo.
Mas isso não significa que o alívio no bolso foi sentido por todos os brasileiros. Para os mais pobres, o peso dos alimentos no orçamento doméstico é muito maior – e o custo da comida continua em alta.
"Na pandemia, a gente teve queda forte da demanda, isso gerou o resultado negativo do IPCA que vimos em abril e maio de 2020, quando houve queda de preços no setor de serviços, nos alimentos, foi mais generalizado. É algo que a gente não está observando este ano", explica Felipe Rodrigo de Oliveira, especialista em IPCA da MAG Investimentos.
Segundo o especialista, a deflação agora é resultado direto da redução de impostos em energia elétrica e gasolina.
"Os preços não estão caindo naturalmente. Teve também a questão da queda do preço no mercado internacional, só que em menor grau quando comparado ao impacto do ICMS", explica Oliveira, referindo-se ao fato de a Petrobras ter reajustado para baixo em julho o valor da gasolina cobrado nas refinarias refletindo o alívio nas cotações internacionais do petróleo.
Alívio temporário
Para os próximos meses, a expectativa dos economistas é que o IPCA continue mais moderado que nos primeiros meses do ano.
Segundo o relatório Focus, que reúne as projeções dos principais agentes de mercado, a inflação deve finalizar o ano em 7,11%. Nos últimos meses, o IPCA vinha ficando acima de dois dígitos, quando se considera o índice acumulado em 12 meses.
Joelson Sampaio, economista da FGV EESP, explica que ao longo do ano a inflação deve ser levada para baixo também por outros fatores, como a elevação na taxa básica de juros, a Selic, que saiu de 2% em março de 2021 para 13,75% na última semana.
"Estamos com uma taxa de 13,75% para 14% e também há a reestruturação da cadeia produtiva. A gente sofreu muita falta de produtos por conta da pandemia e isso já está se regularizando", avalia.