Taiwan organiza nova manobras militares após ameaças da China
Porta-voz do Oitavo Corpo do Exército de Taiwan relata que suas forças dispararam projéteis e sinalizadores como parte de um treinamento de defesa na manhã desta quinta-feira (11)
O exército de Taiwan executou nesta quinta-feira (11) novas manobras com munição real depois que a China, que prossegue com as ameaças de tomar o controle da ilha, encerrou seus maiores exercícios ao redor do território.
Lou Woei-jye, porta-voz do Oitavo Corpo do Exército de Taiwan, disse à AFP que suas forças dispararam projéteis e sinalizadores como parte de um treinamento de defesa na manhã desta quinta-feira (11).
O exercício, na área mais ao sul da ilha, Pingtung, teve duração de uma hora. Na terça-feira (9), uma ação similar aconteceu no mesmo local.
A China reagiu com grande irritação à viagem a Taiwan da presidente da Câmara de Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a principal autoridade americana a visitar a ilha de governo autônomo em décadas.
O exército chinês respondeu com vários dias de exercícios marítimos e aéreos ao redor de Taiwan, o que deixou a tensão em seu nível mais elevado em anos.
Taiwan acusou a China de usar a visita de Pelosi como pretexto para treinar uma possível invasão da ilha.
O exército da ilha minimizou a importância de suas manobras e afirmou que os exercícios estavam programados há muito tempo, antes dos organizados pela China.
"Temos dois objetivos com as manobras: o primeiro é certificar as condições adequadas de artilharia e sua manutenção. O segundo é confirmar os resultados do ano passado", disse Lou.
Preparativos de guerra
O exercício desta quinta-feira aconteceu depois que a China anunciou o fim de suas manobras, com a afirmação de que as forças do país "concluíram com êxito várias tarefas" no Estreito de Taiwan.
No mesmo anúncio, a China disse que "continuará com o treinamento militar e os se preparando para a guerra".
Em um libro branco publicado na quarta-feira (10) pelo Escritório de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado chinês, os autores afirmam que Pequim "não renunciará ao uso da força" e se reserva "a opção de tomar todas as medidas necessárias".
"Estamos preparados para criar um vasto espaço para a reunificação pacífica, mas não deixaremos espaço para atividades separatistas de nenhuma forma", destaca o livro branco.
A edição anterior do livro branco sobre Taiwan foi publicada pela China no ano 2000.
O ministério taiwanês das Relações Exteriores se pronunciou nesta quinta-feira contra o modelo "um país, dois sistemas" que Pequim propõe para a ilha.
"Todo pronunciamento chinês vai absolutamente contra o status quo (entre China e Taiwan) e sua realidade", declarou a porta-voz do ministério, Joanne Ou.
"A China utiliza a visita de (...) Nancy Pelosi como desculpa para destruir o status quo e aproveita a oportunidade para gerar problemas, tentando criar um nova normal para intimidar o povo taiwanês", acrescentou.
Ao mesmo tempo, o Escritório de Assuntos Taiwaneses do Partido Comunista de China afirmou nesta quinta-feira em um comunicado que as "ações rebeldes (de Taipé) são um tapa na cara e não podem deter a tendência histórica de reunificação" com a China continental.
Em Washington, Nancy Pelosi defendeu na quarta-feira (10) sua visita ao afirmar que está "muito orgulhosa" de sua delegação e que a China utilizou sua presença como "pretexto" para iniciar os exercícios militares.
"Não permitiremos que a China isole Taiwan", declarou Pelosi.
Taiwan organiza com frequência exercícios militares nos quais simula a defesa contra uma invasão chinesa e, em julho, treinou repelir um ataque marítimo em uma "operação conjunta de interceptação".
Depois que os militares chineses anunciaram o fim de suas manobras, o exército taiwanês afirmou que "ajustaria como deslocamos nossas forças (...) sem baixar a guarda".
Desde a década de 1990, a ilha passou de uma autocracia para uma democracia vibrante e desenvolveu uma identidade taiwanesa particular.
As relações entre as duas partes pioraram desde 2016, quando chegou ao poder a atual presidente Tsai Ing-wen, cujo Partido Progressista Democrático não considera Taiwan como parte da China.