Análise preliminar revela que obras desviadas de casa de idosa, em golpe milionário, são autênticas
Todo o material, avaliado em milhões de dólares, foi levado para a Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (Deapti); as telas serão depositadas em uma galeria e posteriormente devolvidas à vítima
Coube ao chefe do Serviço de Perícias de Merceologia do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE), Nilton Thaumaturgo Rocha Júnior, analisar 14 obras apreendidas com suspeitos de roubarem peças de arte — entre elas, quadros de Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral —, joias e relógios Rolex em um golpe milionário a uma idosa de 82 anos, em Copacabana, entre 2020 e 2021. Em entrevista ao EXTRA, Thaumaturgo afirmou que 11 das obras que estavam na listagem da Delegacia Especial de Atendimento à Pessoa da Terceira Idade (Deapti), além de outras três não identificadas, “preliminarmente são verdadeiras”.
"Inicialmente foi feita uma perícia na parte macroscópica. A análise laboratorial será feita posteriormente. Estou tratando as obras como autênticas pelo que temos agora, nesse momento. Realmente, os produtos são compatíveis com os originais. Mas todas as análises serão feitas", explica o perito.
As telas ficavam escondidas embaixo de uma cama da casa de Rosa Stanesco Nicolau, uma cartomante conhecida como Mãe Valéria de Oxossi, em um prédio de luxo de Ipanema. Ele lembrou que todas as peças estavam devidamente embaladas como se já estivem prontas para a venda.
"Durante as buscas, as obras foram encontradas embaixo de uma cama de casal. Na verdade, elas estavam escondidas entre o estrado e o colchão. Todas elas estavam devidamente embaladas com plástico bolha, papel manteiga e fita crepe, como se já estivessem prontas para venda. A única obra que estava com o pacote rasgado era justamente a “Sol Poente”, a princípio a obra mais cara do acervo. Era como se ela tivesse sido embalada como as outras, mas em algum momento o plástico houvesse sido rasgado para que alguém visse ou fizesse uma foto para vender e voltaram a guardar", conta Nilton Thaumaturgo.
Ele observou que uma das obras estava com a moldura danificada e outra tinha uma espécie de ralado na tela. O perito preferiu não especificar quais eram e seus respectivos pintores.
"Há apenas uma obra com a moldura danificada e outra que tem uma pequena escarificação (um ralado na tinta). Isso não a compromete. As outras, a princípio, estão em estado normal. Elas serão depositadas em uma galeria e posteriormente devolvidas à vítima".
Nos próximos dias, o ICCE e o Instituto Federal do Rio irão verificar a autenticidade de todas as obras. A análise será feita no laboratório do campus de Paracambi, na Baixada Fluminense, o único na América Latina a trabalhar com esse tipo de tecnologia.
"Temos um método exclusivo e uma metodologia que a Civil desenvolveu com o Instituto Federal do Rio. É uma análise muito complexa que passa por cinco grupos de estudos e inclui três técnicas laboratoriais extremamente avançadas para identificarmos obras verdadeiras ou falsas".
De acordo com especialistas no assunto, obras de arte que custam milhões de reais precisam ser transportadas com o máximo cuidado. Num primeiro momento, entretanto, uma delas não teria sido manuseada com as devidas precauções por um policial civil que, em uma viatura e sem qualquer proteção, tentou forçar para que uma tela entrasse no carro. Após as imagens serem divulgadas por emissoras de TV, uma equipe de policiais foi até um armarinho e comprou dois rolos de plástico bolha para embrulhar as telas.
Todo o material, avaliado em milhões de dólares, foi levado para a DEAPTI e em seguida será levado para um local seguro.
Questionado sobre o manuseio da obra pelo policial, Nilton Thaumaturgo disse que a tela era uma pintura sem valor comercial. O perito destacou que a peça era uma pintura feita em tapume de obra.
"É importante esclarecer que o policial já estava informado sobre as obras. Aquela tela grande foi retirada de um local da Zona Norte. Foi de uma apreensão. Ele a levou para lá, Ipanema, para olharmos e depois desceu para guardá-la na viatura. Aquela obra não está na listagem das obras procuradas e se vocês prestarem atenção no vídeo – eu olhei a obra para verificar se ela era ou não valiosa e não era. Eles pegaram um tapume de obra, é claramente visto no vídeo, e fizeram uma pintura muito tosca na parte da frente. Aquela pintura não tem valor e não é valiosa. Inclusive, o policial já tinha essa informação", destacou o chefe do Serviço de Perícias de Merceologia do ICCE, que completou:
"As onze obras que estavam na listagem e que eram procuradas foram devidamente encontradas, bem como outras três que estavam lá e que desconfiamos que são autênticas e não estavam na listagem. Todas elas foram devidamente acondicionadas conforme manda o nosso protocolo e supervisadas por mim e pela minha equipe, que é especializada em análise forense de bens de luxo", concluiu.