Atos "em defesa da democracia" a semanas das eleições no Brasil
Bolsonaro menosprezou essas manifestações nesta semana ao garantir que "quem quer ser democrata" não precisa assinar uma "cartinha"
Acadêmicos, sindicatos, empresários e outros membros da sociedade civil brasileira se reuniram nesta quinta-feira (11) em São Paulo para se manifestar “em defesa da democracia”, em resposta aos ataques do presidente Jair Bolsonaro contra as instituições democráticas.
Faltando menos de dois meses para as eleições nas quais buscará um novo mandato, o presidente de extrema direita voltou a criticar publicamente os ministros do Supremo Tribunal Federal e questionou a confiabilidade do sistema de votação por urna eletrônica, alimentando temores de que pode não reconhecer uma eventual derrota.
"Após 200 anos de independência do Brasil deveríamos estar pensando em nosso futuro, em como resolver problemas graves, por exemplo da educação, saúde, da economia, mas estamos voltados a impedir retrocessos", disse o reitor da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Gilberto Carlotti Junior, ao abrir uma solenidade na instituição que reuniu cerca de 800 advogados, professores, empresários, dirigentes sindicais e ONGs.
Do lado de fora da universidade, milhares de pessoas agitaram bandeiras e ergueram faixas contra Bolsonaro. Alguns se fantasiaram de urnas eletrônicas, segundo um fotógrafo da AFP.
Manifestações estão previstas em outras cidades do país. Nas últimas semanas, mais de 900 mil representantes da sociedade civil assinaram um manifesto "em defesa da democracia" lançado pela USP, que foi lido em um vídeo por artistas como Caetano Veloso, Anitta e Fernanda Montenegro.
Outras cartas semelhantes foram publicadas por importantes associações empresariais, incluindo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a muito influente Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), algo visto por muitos observadores como um revés para Bolsonaro, já que grande parte do empresariado o apoiou nas eleições de 2018.
O Brasil vive um "momento inédito em que capital e trabalho se juntam em defesa da democracia", afirmou o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias ao ler o manifesto divulgado na semana passada pela Fiesp intitulado "Em defesa da democracia e da justiça".
Os participantes do evento na USP traçaram paralelos com um evento realizado em 1977, quando um manifesto em defesa da democracia foi lido na mesma universidade em um momento de ditadura militar no Brasil (1964-1985).
Bolsonaro menosprezou essas manifestações nesta semana ao garantir que "quem quer ser democrata" não precisa assinar uma "cartinha".
Na última pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada em 28 de julho, Bolsonaro aparece 18 pontos atrás do ex-presidente de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), o favorito para vencer a eleição (47% contra 29%).