Filme da brasileira Júlia Murat conquista o Leopardo de Ouro do Festival de Locarno
O "Regra 34" é o terceiro longa-metragem de Júlia Murat, de 42 anos, irmã mais nova de Lúcia Murat, famosa diretora e ativista brasileira
O filme da brasileira Júlia Murat "Regra 34" conquistou, neste sábado (13), o Leopardo de Ouro do Festival de Cinema de Locarno, a maior distinção do festival suíço, com a história de uma estudante que ganha dinheiro expondo-se sexualmente na internet.
Apresentado em estreia mundial em Locarno, o filme traz o retrato de uma estudante de direito, Simone, que trabalha com mulheres vítimas da violência.
Enquanto milita por esta causa, no privado interpreta uma "camgirl", filmando a si mesma e se expondo na internet em práticas sexuais extremas por pagamento.
A realizadora expressou sua surpresa ao receber o prêmio, salientando que "é um filme que trata de um assunto muito difícil" e "por isso nunca pensei que seria possível mais do que um membro do júri lutar por este filme".
"É difícil imaginar que este filme seja visto no Brasil como outra coisa que não um filme artístico. Mas espero que sim", acrescentou em entrevista publicada pelo festival.
A diretora também fez um apelo à democracia, comentando que espera "que este prêmio ajude a nossa sociedade a compreender que precisamos de defender a democracia, mas também a diferença e que temos de apoiar o diálogo". O país vive tempos agitados com a aproximação das eleições presidenciais.
O título do filme remete à chamada regra 34 da internet, que afirma que tudo na web tem seu equivalente pornográfico, e questiona como manter o equilíbrio entre desejo, liberdade e proteção, tanto para os indivíduos quanto para a sociedade, especialmente no Brasil.
"'Regra 34' traz o cinema brasileiro de volta ao esplendor anárquico do 'cinema marginal'. Um trabalho ousado e político que pretende deixar uma marca. O corpo torna-se objeto político", comentou a diretora artística do festival, Giona Nazzaro.
Este prêmio é, segundo ela, "importante para uma cinematografia como a do Brasil, que definiu momentos-chave na história do cinema mundial. Um cinema que está na vanguarda da defesa da ideia de um mundo mais inclusivo e mais livre".
O filme foi criticado por alguns por sua violência excessiva mostrada na tela.
Este é o terceiro longa-metragem de Júlia Murat, de 42 anos, irmã mais nova de Lúcia Murat, famosa diretora e ativista brasileira.
O júri do festival de Locarno, uma pequena cidade às margens do Lago Maggiore, também premiou três vezes o filme "Tengo Sueños Electricos" da diretora costarriquenha Valentina Maurel.
O filme ganhou o Prêmio de Melhor Diretor, o Prêmio de Melhor Atriz (Daniela Marin Navarro) e o Prêmio de Melhor Ator (Reinaldo Amién Gutiérrez).