Perícia usou DNA para identificar parte das vítimas da tragédia de Petrópolis
Mais de 200 peritos, papiloscopistas, técnicos e auxiliares de necropsia participaram da força-tarefa
O trabalho de mais de 200 profissionais, entre eles peritos legistas, papiloscopistas, técnicos e auxiliares de necropsia, inspetores e peritos odontolegistas, resultou na identificação de 233 corpos após o temporal que devastou a cidade de Petrópolis, em 15 de fevereiro. José Rodrigues Fontes, de 78 anos, pai da farmacêutica Ana Cristina Rodrigues Fontes, de 28 anos, estava entre as vítimas da tragédia. O aposentado foi identificado por meio de material genético armazenado no banco de DNA, criado durante o mutirão realizado pela Polícia Civil Técnico-Científica.
"Não conseguimos identificar o corpo do meu pai e não tínhamos documentos com a digital dele. Enquanto não tivéssemos 100% de certeza, ainda havia esperança. Uma parte de mim queria acreditar que não era ele. Outra parte queria respostas. Só quando pegamos o resultado do exame de DNA é que a ficha caiu de verdade. Todo sentimento de dor e tristeza veio naquele momento. Mas também veio uma enorme sensação de alívio porque a incerteza gera dúvida e muita dor. Foi muito triste, mas só assim conseguimos, de alguma forma, encerrar isso. Foi de extrema importância para nós e fundamental para resolvermos questões burocráticas e legais para tentar seguir em frente", conta Ana Cristina.
Horas depois das fortes chuvas que castigaram a cidade, técnicos e peritos já trabalhavam para o reconhecimento dos corpos. As pessoas registravam o desaparecimento de familiares e amigos, enquanto equipes da Polícia Civil convocavam as famílias para coletarem material genético para o exame de DNA que poderia ajudar na identificação das vítimas.
"No dia do temporal recebemos 16 corpos. Já no dia seguinte recebemos mais de 100 e foi só aí que tivemos uma noção do tamanho da tragédia. Convocamos, então, técnicos, inspetores, delegados, peritos legistas, odontolegistas e papiloscopistas que vieram de todo o estado para nos ajudar. Também foi necessário recorrer a contêineres e caminhões frigoríficos para armazenar os corpos. Tudo feito de forma bem célere", relata a perita legista Mary Laura Garnica Perez Villar.
As primeiras vítimas encontradas foram identificadas pela necropapiloscopia, que utiliza as impressões digitais, ou pela odontologia legal, a partir de documentos que as famílias disponibilizaram.
"Fizemos uma análise da arcada dentária e comparamos com os documentos que as famílias nos forneciam. Também apelamos aos dentistas da cidade para que disponibilizassem esse material para nos ajudar. Foi uma mobilização muito grande", conta a legista.
Coleta de DNA
Depois de uma semana de buscas, 89 pessoas ainda estavam desaparecidas. Enquanto chuva e trovoadas voltavam a trazer medo e apreensão aos moradores, as famílias começavam a fazer testes de DNA em mutirões organizados pela Polícia Civil para ajudar na identificação das vítimas, a partir de material genético.
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De acordo com a perita Mary Laura, o exame da genética forense é o último da cadeia por ser mais complexo e demorado.
"Os perfis genéticos da vítima e da família precisam ser comparados. Foi necessário fazer o exame de DNA porque, conforme o tempo passava, ficava mais difícil o reconhecimento dos corpos. Com os registros que as famílias faziam na Delegacia de Descoberta de Paradeiros (DDPA), agendávamos a coleta do material genético", explica.