Tecnologia

Dona do TikTok compartilha segredo de seus algoritmos com autoridades chinesas

Regulador de internet na China publica lista com 30 algoritmos de empresas como ByteDance, controladora da rede social, e Alibaba, do AliExpress

Rede social Tik Tok - Loic Venance/AFP

Os gigantes da internet da China, da Tencent à ByteDance, compartilharam detalhes de seus algoritmos premiados com autoridades chinesas pela primeira vez, uma medida sem precedentes destinada a conter o abuso de dados que pode acabar comprometendo segredos corporativos bem guardados.

O órgão de vigilância da internet publicou na sexta-feira uma lista descrevendo 30 algoritmos que empresas como Alibaba, dona do AliExpress, e Meituan, além da ByteDance e Tencent, empregam para coletar dados sobre usuários, personalizar recomendações pessoais e fornecer conteúdo. Embora a lista pública não tenha revelado o código real, não ficou claro até que ponto as empresas de internet podem ter revelado seus softwares subjacentes aos reguladores em particular.

São os algoritmos que decidem quais vídeos do TikTok, postagens do WeChat, da Tencent, e fotos do Instagram os usuários veem são considerados o molho secreto de muitos serviços on-line, essenciais para capturar a atenção do usuário e impulsionar o crescimento do negócio.

Em março, a China adotou regulamentos que exigem que as empresas de internet divulguem essas ferramentas, um esforço para lidar com reclamações sobre abuso de dados e que também ajuda os reguladores a manter as empresas de internet sob controle.

Os algoritmos da indústria de tecnologia são guardados a sete chaves e estão no centro das controvérsias políticas em todo o mundo. Essa exigência de divulgação diferencia a China de países como os Estados Unidos, onde a Meta, controladora do Facebook, e a Alphabet, dona do Google, argumentaram com sucesso que os algoritmos são segredos de negócios, mesmo quando parlamentares e ativistas procuram entender melhor como eles selecionam conteúdo e gerenciam dados.

"Ninguém nunca teve acesso a esses detalhes antes", disse Zhai Wei, diretor executivo do Centro de Pesquisa de Direito da Concorrência da Universidade de Ciência Política e Direito da China Oriental, em Xangai. - Os algoritmos das empresas de tecnologia são os principais segredos de negócios que representam suas competências.

A Administração do Ciberespaço da China (CAC), o órgão regulador da internet no país, por enquanto exige apenas informações básicas das empresas, mas pode buscar mais detalhes para investigar alegações de violações de dados, acrescentou Zhai.

A China vem apertando os regulamentos para conter a expansão descontrolada dos gigantes de tecnologia do país. No ano passado, o governo chinês introduziu a Lei de Proteção de Informações Pessoais e a Lei de Segurança de Dados para estabelecer regras mais rígidas sobre como as empresas lidam com os dados dos usuários.

A lista de algoritmos disponível para revisão pública limita-se a descrições curtas de como eles funcionam e o produto e os casos de uso em que se aplicam. Por exemplo: a ByteDance diz que seu algoritmo discerne os gostos e desgostos de um usuário para recomendar conteúdo em aplicativos, incluindo a plataforma de vídeos curtos Douyin, primo chinês do TikTok.

Já a Meituan diz que seus algoritmos ajudam a despachar pedidos de refeições para os passageiros da maneira mais eficiente com base em seu tempo de inatividade e rota de entrega. O próprio TikTok, que opera apenas fora da China, não é obrigado a compartilhar detalhes com o CAC.

De acordo com os regulamentos, as empresas também devem enviar informações não públicas ao CAC, incluindo uma autoavaliação sobre a segurança dos algoritmos, os dados que coletam, se abrangem informações biométricas ou de identidade confidenciais, e quais fontes de dados são usadas para treinar algoritmos.

O órgão regulador - que emitiu as diretrizes em conjunto com o Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação, o Ministério da Segurança Pública e a Administração Estatal de Regulação do Mercado - disse que continuará atualizando a lista.

"As informações fornecidas pelas empresas ao CAC são muito mais detalhadas do que o que foi publicado com certeza, e isso envolve alguns segredos comerciais, que não são possíveis de serem divulgados ao público", acrescentou Zhai.