Eleições 2022

Bolsonaro e Lula iniciam campanha mais polarizada em décadas no Brasil

Urnas eletrônicas - Marri Nogueira/Agência Senado

O Brasil entrou oficialmente nesta terça-feira (16) em campanha eleitoral com Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como protagonistas da disputa presidencial mais polarizada em décadas.

O presidente Bolsonaro, 67 anos, discursou na mesma esquina em que foi esfaqueado na campanha de 2018, em Juiz de Fora, Minas Gerais: "A cidade onde renasci", disse na abertura de um discurso carregado de declarações patrióticas e alusões a Deus e à Bíblia.

Com um casaco preto fechado até o pescoço, Bolsonaro reforçou sua promessa de lutar contra a inflação de dois dígitos, o aborto, as drogas e defender a propriedade privada, alertando para uma ameaça "comunista" caso perca as eleições.

"Mito, mito, mito!", cantaram centenas de apoiadores. Sua esposa, Michelle Bolsonaro, expressou ainda mais entusiasmo. 

Bolsonaro se referiu à esposa como a pessoa mais importante do local. A fervorosa evangélica se apresentou ativamente na pré-campanha.

Michelle, vestida com uma camisa amarela, convidou o público a rezar o 'Pai Nosso' e comoveu a multidão, constatou a AFP.

Lula volta a suas origens

Lula também protagonizou um ato carregado de simbolismo.

O ex-presidente, de 76 anos, que lidera as pesquisas, visitará a fábrica de uma montadora de carros em São Bernardo do Campo, região metropolitana de São Paulo, onde se tornou líder sindical nos anos 1970 e seu berço político.

"Lula sempre busca voltar a São Bernardo em momentos marcantes de sua trajetória política. Isso favorece uma aproximação entre ele e a população, em sua narrativa de representante dos trabalhadores", explicou à AFP Adriano Laureno, analista político da consultora Prospectiva.

A pré-campanha foi marcada pelos constantes questionamentos - sem provas - de Bolsonaro à confiabilidade do sistema de urnas eletrônicas no Brasil. As críticas despertaram temores de que Bolsonaro não reconheça uma eventual derrota.

Bolsonaro "está tentando minar o sistema eleitoral, alegando não ser confiável, sem fornecer nenhuma prova", afirmou na segunda-feira a ONG Humans Right Watch (HRW).

"Todos os candidatos deveriam rejeitar alegações infundadas de fraude e respeitar a decisão dos eleitores, seja quem for o vencedor", acrescentou a HWW.

Lula, que recuperou seus direitos políticos em 2021 após a anulação de suas condenações na Lava Jato, segue liderando as pesquisas, embora Bolsonaro pareça diminuir a distância.

Na segunda-feira, o instituto IPEC indicou que Lula tem 44% das intenções de voto no primeiro turno em 2 de outubro, contra 32% para Bolsonaro, de acordo com a última pesquisa, encomendada pela TV Globo.

No mês passado, o Instituto Datafolha, que divulgará os resultados de uma nova pesquisa nesta quinta-feira (18), colocou Lula com 47% das intenções de voto, contra 29% para Bolsonaro.

"Temos em 2022 a eleição presidencial mais polarizada desde a redemocratização. Isso porque é a primeira vez que teremos uma disputa de legados, entre um presidente e um ex-presidente", destaca Laureno.

A eleição envolve "dois candidatos bem conhecidos de toda a população brasileira e que, como tal, tem intenções de voto altas e apoiadores fieis (...), o que dificulta o surgimento de qualquer candidato alternativo", completa.

Bolsonaro definiu a campanha como uma batalha entre "o bem e o mal", afirmando que a volta de Lula ao poder poderia significar a instalação do "comunismo" no Brasil.

Já Lula promete restaurar as conquistas sociais das classes mais vulneráveis que caracterizaram seu governo, ao mesmo tempo em que ataca Bolsonaro, que chamou de "genocida" por sua responsabilidade nas mais de 680 mil mortes no país durante a pandemia de Covid-19.

A principal preocupação dos brasileiros, segundo as pesquisas, é a situação econômica, marcada nos últimos anos por altos níveis de desemprego e uma inflação crescente que enfraqueceu a popularidade de Bolsonaro.

Embora a tendência seja o presidente melhorar sua popularidade com os recentes cortes nos preços do combustível, o aumento do auxílio social e a maior aparição da primeira-dama Michelle Bolsonaro na campanha, a grande incógnita dos analistas é se há tempo para uma reviravolta eleitoral.

Além do pedido explícito de votos em atos públicos, a partir desta terça-feira é permitida a propaganda eleitoral na internet, onde Bolsonaro conta com milhões de seguidores engajados pelas redes sociais.

Mais de 156 milhões de brasileiros estão registrados para votar no dia 2 de outubro, primeiro turno de uma eleição em que também serão disputados cargos de deputados, senadores e governadores.

Os dois principais candidatos se encontrarão à noite em Brasília, onde devem assistir à cerimônia de posse do ministro Alexandre de Moraes como presidente do Tribunal Superior Eleitoral.