DVD João Gomes

João Gomes: de Serrita para o expansivo universo da pisadinha

Cantor e compositor pernambucano, representante de peso do gênero, grava nesta quarta (17) o primeiro DVD da carreira, no Bairro do Recife

João Gomes, cantor - Prefeitura de Caruaru

Uma imersão "en passant" é suficiente para entender alguns fenômenos da música no Brasil - que não necessariamente colocam à frente técnicas vocais ou profundidades melódicas. As vias de 'chegança' ao topo de mais populares, mais ouvidos e reproduzidos passam por sotaque, vestimentas e representatividade. João Fernando Gomes Valério, o 'menino' de Serrita, no Sertão pernambucano, que o diga.

Hoje, 'menino' também de um País afora e na plenitude de 20 anos de vida e pouco mais de um ano de estrada como artista que, do recorte do primeiro disco "Eu Tenho a Senha" (2021), descreve em uma das suas redes sociais de mais de 13 milhões de seguidores, que "muito conta com Deus que tá no céu". 
 

 

O gênero que ganhou o País
Inclusive, logo mais, na noite desta quarta-feira (17) no Marco Zero, (Bairro do Recife), algumas dezenas desses milhares de fãs virtuais estarão in loco para assistir à gravação de "Acredite", DVD ao vivo com participações de nomes como Fagner, Vanessa da Matta e Tarcísio do Acordeon, entre outros artistas imbuídos no estilo pisadinha, que outrora foi escrito com "Z" sob a assinatura do baiano Nelson Nascimento - o "Rei da Pizadinha", ainda nos primórdios dos anos 2000.

O gênero tem sido maioral no mercado fonográfico brasileiro e tido como divisor de águas para nomes como Gusttavo Lima, cuja engrenagem artística embalou a partir de hits como "Fazer Beber", composta por Nascimento. A sonoridade dos teclados no forró demarcaria o ritmo que, por definição, é vertente do forró.



"A pisadinha vem das festas do interior, surge em oposição à eloquência que o forró eletrônico (Garota Safada e Aviões, por exemplo) tinha, com estrutura de músicos, dançarinos e palcos enormes (...). Pequenos contratantes de cidades menores fizeram florescer essa estrutura (da pisadinha), mais simples, inclusive do ponto de vista logístico, que é um forró de teclado com um cantor e apenas um instrumento que consegue emular uma base instrumental completa", explica GG Alburquerque, jornalista e doutorando em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Estrutura de gente grande
De fato, em se tratando de estrutura, o palco montado no Bairro do Recife para o DVD é o extremo oposto do que era apresentado por pioneiros da pisadinha como Lairton e Seus Teclados e Zezo Potiguar, entre outros nomes "lá de trás".

O show da noite desta quarta-feira será apresentando em um palco com medições proporcionais ao sucesso do gênero comandado por João Gomes: 30 metros de frente, passarela de 26 metros, cercado por mais de 800 aparelhos de iluminação, entre outros apetrechos - além de uma réplica da casa onde o cantor morou em Serrita, de taipa e com elementos que remetem ao Sertão, entre eles plantas e cactos.

 

Crédito: Paullo Almeida/Folha de Pernambuco

A ideia é reproduzir a história de vida do artista, que da cidade natal foi para Petrolina e de lá, ganhou o Brasil, a partir de referências como Luiz Gonzaga e Kara Véia, este, cantor, compositor e locutor de vaquejada. "João Gomes é uma espécie de elo entre a tradição dos forrós de vaquejada, das toadas, com a MPB radiofônica que tá ali representada por Vanessa da Matta, por exemplo, e por esse canto falado do trap e do funk", ressalta GG, que complementa reforçando sobre a abrangência de um gênero que abarca outras sonoridades.

 



"Essas vocalizações estão muito presentes no trabalho que ele faz (...) “É um gênero que se renova, conectando-se a vários outros lugares, além de iniciativas que permitem uma continuidade das carreiras dos cantores, quebrando o círculo vicioso de estourar uma música nacionalmente e voltar para sua Região”.