Exposição "Semprenunca fomos modernos" explora todas as faces do modernismo pernambucano
Em cartaz no Museu do Estado de Pernambuco (Mepe), mostra reúne obras de artistas como Cícero Dias e Tereza Costa Rêgo
Ocupando todas as galerias do Museu do Estado de Pernambuco (Mepe) e o Centro de Documentação Cícero Dias, a exposição “Semprenunca fomos modernos” reúne 109 obras. Em cartaz até 25 de setembro, a mostra traz à tona novas narrativas sobre a arte moderna produzida por mãos pernambucanas.
A exposição tem como base e inspiração o livro “Pernambuco Modernista”, do jornalista e antropólogo Bruno Albertim, editado pela Cepe e lançado este ano. O autor assina a curadoria da mostra, em parceria com o diretor do Mepe, Rinaldo Carvalho, a historiadora Maria Eduarda Marques e a especialista em artes visuais Maria do Carmo Nino.
“Nós conversamos muito sobre os fatores históricos e sociais que propiciaram a Pernambuco e ensejo de uma arte modernidade no século 20. Eu acabei escolhendo a maior parte das obras que participam da exposição e quis mostrar, através dessa seleção não só o modernismo clássico, mas também os desdobramentos desse patrimônio estético e ético”, explica Bruno.
O movimento em Pernambuco
Dividida em nove núcleos argumentativos, a exposição reúne representantes do modernismo pernambucano de diferentes épocas. O recorte vai do início do movimento, com Lula Cardoso Ayres, Cícero Dias e Vicente do Rêgo Monteiro, passando por meados do século 20, com Francisco Brennand, Tereza Costa Rêgo, José Cláudio e Guita Charifker, até chegar aos modernistas contemporâneos.
“Esses novos artistas pernambucanos tomam partido do legado estético do modernismo, mas a partir de outros locais sociais. São pessoas pretas, periféricas, não heteronormativas, mulheres. Além do figurativismo e do uso de uma paleta capaz de refletir a insolação regional, eles trazem a preocupação de inserir outras identidades nesse mosaico de reescritura das oficialidades no século 21”, aponta o curador. Nomes como Clara Moreira, Fefa Lins, Juliana Lapa, Max Mota e Diogum integram esse grupo.
A brincadeira contida no nome da exposição simboliza as contradições envolvidas na construção de uma arte moderna com raízes pernambucanas. “Uso essas duas palavras antagônicas (sempre e nunca) para mostrar que Pernambuco teve sim pioneirismo no desenvolvimento de uma sensibilidade moderna no País, mas também foram desenvolvidos mecanismos de colonialismo interno. Eram quase sempre os mesmos homens brancos e heterossexuais, vindos de camadas elitistas, que tinham o acesso a esse lugar de imprimir a memória visual do Estado”, ressalta.
Tentativas de "reescrita"
Bruno classifica a exposição e o livro como “tentativas de reescrever a história oficial da arte moderna no Brasil, reinserindo Pernambuco no lugar que lhe é devido”. A ideia é desconstruir a visão de uma hegemonia paulista na disseminação do modernismo no Brasil, em meio às comemorações do centenário da Semana de 22.
“Por questões ideológicas, políticas e sociais, toda a contribuição pernambucana para a arte moderna brasileira acabou sendo apagada das narrativas oficiais. A modernidade aqui se dá de forma independente e paralela, com características próprias e grandes artistas preocupados com mum identidade regional”, defende.
Serviço
Exposição "Semprenunca fomos modernos"
Onde: Museu do Estado de Pernambuco (avenida Rui Barbosa, 960, Graças)
Quando: visitas de terça a sexta, das 11h às 17h; sábados e domingos, das 14h às 17h
Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia-entrada)