Bispo agradece solidariedade após duas semanas de detenção policial na Nicarágua
Rolando Álvarez é crítico do governo de Daniel Ortega e está detido em sua cúria desde 4 de agosto
O bispo nicaraguense Rolando Álvarez, detido pela polícia há duas semanas em sua cúria enquanto é investigado por supostamente tentar "desestabilizar" o país, agradeceu nesta quinta-feira (18) os gestos de solidariedade, em meio a tensões entre o clero e o governo.
"Obrigado por lembraram de nós, obrigado por esta grande comunhão espiritual" na qual reside "nossa força", disse o bispo, em missa transmitida pelo Facebook de dentro da cúria, que está cercada pela polícia.
Álvarez, bispo da diocese de Matagalpa, no norte do país, é crítico do governo de Daniel Ortega e está detido em sua cúria junto com uma dezena de pessoas desde 4 de agosto.
Álvarez foi detido depois de denunciar o fechamento de cinco rádios religiosas e exigir que o governo Ortega "respeitasse" a liberdade de culto diante do "assédio" que, segundo ele, a Igreja Católica sofre.
A polícia anunciou que a diocese de Álvarez é investigada por tentar "organizar grupos violentos" e incitar o "ódio" para "desestabilizar o Estado da Nicarágua".
"Estamos nas mãos de Deus", declarou o bispo nesta quinta-feira.
A detenção de Álvarez ocorre em meio a desentendimentos entre a Igreja e o governo de Ortega, um guerrilheiro de 76 anos que se mantém no poder desde 2007, após vencer três eleições consecutivas.
A última aconteceu em novembro de 2021, com seus opositores presos ou exilados e em meio a questionamentos internacionais.
As relações entre a Igreja e o governo Ortega se deterioraram em 2018, quando vários templos abriram suas portas para abrigar manifestantes feridos durante os protestos contra o presidente que foram duramente reprimidos.
O governo sustenta que essas manifestações fizeram parte de uma tentativa de golpe promovida pela oposição com o apoio de Washington e na qual os bispos foram cúmplices.
A Associação Missionárias da Caridade, da ordem de Madre Teresa de Calcutá, que deixou o país em julho, também foi proibida. Em março, o núncio apostólico Waldemar Sommertag, que participou das negociações entre governo e oposição em 2018 e 2019, já havia sido expulso.