Exposição em Hollywood resgata joias do cinema afro-americano
A exposição é um grande evento para a Academia, que nos últimos anos teve que lidar com acusações de falta de diversidade
Muito antes de Denzel Washington, Spike Lee e Sidney Poitier, gerações de cineastas negros desempenharam papeis fundamentais na formação do cinema americano e no combate aos estereótipos raciais. O tema é destaque de uma nova e importante exposição em Hollywood.
"Regeneration: Black Cinema 1898–1971 (Regeneração: o cinema afro-americano 1898-1971"), inaugurada no próximo domingo (21) no Museu da Academia de Artes em Los Angeles, relembra momentos-chave na história do cinema afro-americano que foram ignorados pelos principais estúdios de Hollywood e pelo público até que caíram no esquecimento.
Imagens de 1898 encontradas recentemente mostram artistas negros de vaudeville (gênero teatral) e contam a quase desconhecida história dos "race films" - centenas de filmes independentes feitos por afro-americanos, com negros e para negros, em uma época na qual as salas de cinema eram locais de segregação.
"Está pronto para ouvir um segredo? Nós, os pretos, sempre estivemos presentes no cinema americano, desde o início. Não como estereótipos mas como criadores, inovadores e com um público ávido", disse em coletiva de imprensa a cineasta indicada ao Oscar Ava DuVernay.
Entre os objetos expostos estão o histórico Oscar de melhor ator obtido por Poitier em 1964 por "Uma Voz na Sombras", os sapatos usados por Nicholas Brothers, um trompete tocado por Louis Armstrong e o figurino de Sammy Davis Jr em "Porgy and Bess".
A ideia da exibição surgiu em 2016, quando curadores encontraram no grande arquivo da Academia os primeiros cartazes de divulgação de filmes com "elenco totalmente afrodescendente".
Cowboys pretos
O público pode ver imagens cuidadosamente restauradas destes filmes, incluindo o musical de faroeste "Harlem on the Prairie", os gangsteres de "Dark Manhattan" e a comédia "Mr Washington Goes To Town".
Muitas produções se perderam para sempre e seus cartazes são "uma espécie de prova de que existiram", explica a cocuradora, Rhea Combs.
Enquanto os filmes de maior sucesso em Hollywood colocavam os negros em papeis como "mordomos e babás", os "race films" os faziam brilhar como "advogados, médicos e cowboys", conta Berger.
"Esta é uma prova de que (Hollywood) pode ter sido muito mais enriquecedor e emocionante".
A exibição também retrata a ascensão do gênero Blaxplotation (exploração negra) no início da década de 1970, que teve como pioneiro Melvin Van Peebles, que, como Poitier, morreu meses antes da inauguração da exposição.
A exposição é um grande evento para a Academia, que nos últimos anos teve que lidar com acusações de falta de diversidade. Um movimento nascido em 2015, #OscarsSoWhite (Oscar muito branco), também a criticou pela escassez de indicados negros. Desde então, o cinema se esforça para cumprir a promessa para multiplicar o número de negros, mulheres e minorias.