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Parque Nacional da Abolição, no Engenho Massangana, reabre para o público

Equipamento cultural recebe as exposições "Jeff Alan: pra deixar de ser 'pra inglês ver'" e "Masanganu: memórias negras"

Engenho Massangana, no Cabo de Santo Agostinho - Malu Didier/Divulgação

Situado no Engenho Massangana, local onde Joaquim Nabuco (1840-1910) viveu durante a infância, no Cabo de Santo Agostinho, o Parque Nacional da Abolição está novamente de portas abertas. Depois de passar dois meses fechado para reparos estruturais, o equipamento cultural retoma as atividades com novas exposições e mudança institucional.

O artista visual pernambucano Jeff Alan tem a sua obra contemplada em uma das mostras inauguradas recentemente. Composta de 12 telas assinadas pelo pintor, “Jeff Alan: pra deixar de ser ‘pra inglês ver’” incorpora a relação entre memória e reconhecimento da população negra, retratando nomes do abolicionismo e da cultura afro-brasileira, como André Rebouças, Luís Gama, José do Patrocínio, Machado de Assis e Carolina de Jesus.

O título da exposição de Jeff faz referência ao ditado originado no século 19, em função da Lei Feijó, que proibia o tráfico de escravos, mas na prática não funcionava. As obras ficam expostas dentro de onde funcionava a casa-grande do Engenho Massangana, mesclando personalidades que se destacaram na história brasileira com configurações estéticas atuais.
 

“Quando desenho um risquinho na sobrancelha e um loiro ‘pivete’ nessas figuras históricas, por exemplo, sinto que é possível incorporar esses corpos no momento presente. É um resgate à memória, não os mantendo relegados a um passado escondido”, aponta o artista. As visitas podem ser feitas de terça-feira a sábado, das 9h às 16h30, e no domingo, das 10h às 15h, com entrada gratuita.

Assim como a mostra assinada por Jeff, a segunda exposição em cartaz no engenho evidencia a proposta de uso decolonial de um espaço que carrega um passado tão doloroso para a população negra brasileira. Em três salas da casa-grande, documentos históricos da vida dos escravizados mantidos naquela propriedade dialogam com obras de importantes vozes pretas do Brasil.

Com registros do acervo da Fundaj e do Museu da Abolição, a mostra “Masanganu: memórias negras” tem curadoria de Henrique de Vasconcelos Cruz e Victor Carvalho. Considerado um marco do cinema negro brasileiro, o trabalho em videoarte “Alma no Olho”, do cineasta Zózimo Bulbul, compõe a exposição. Marcelo D’Salete traz serigrafias baseadas em sua premiada HQ “Angola Janga”. Já na série de obras “Atualizações Traumáticas de Debret”, a artista visual Gê Viana apresenta releituras de obras de Jean-Baptiste Debret.

A cerimônia de reabertura do Parque Nacional da Abolição ocorreu na manhã da última sexta-feira. Durante o evento, foi lançada a versão digital do livro “Camões e os Lusíadas”, ensaio publicado por Joaquim Nabuco em 1872 e reeditado neste ano pela Editora Massangana, da Fundaj. A reedição marca os 450 anos de publicação de “Os Lusíadas”, poema épico de Luís de Camões. A publicação traça a biografia do poeta português até a concepção da sua renomada epopeia.

Vinculado ao Museu do Homem do Nordeste, o Engenho Massangana foi recentemente incorporado ao estatuto da Fundaj, instituição responsável pela ocupação e uso do local desde o seu tombamento. O objetivo é reforçar o caráter museológico do equipamento cultural, que vive uma nova fase, direcionando seu olhar para as pessoas escravizadas e não os senhores de engenho. Esse princípio norteia as novas exposições em cartaz e também as futuras atividades que serão realizadas no local.    

Serviço

Parque Nacional da Abolição
Onde: Engenho Massangana (Rodovia PE-60, s/n, Cabo de Santo Agostinho)
Visitas: de terça-feira a sábado, das 9h às 16h30, e no domingo, das 10h às 15h
Entrada gratuita