Educação

Saiba como escolas e famílias podem ajudar na educação financeira dos jovens

Instituições podem auxiliar os jovens a se estabelecerem financeiramente e se tornarem adultos mais responsáveis

Rafael Andrade, aluno primeiranista - Divulgação/Samara Cinobio

Muitas crianças são ensinadas e estimuladas a guardar dinheiro em cofrinhos, a economizar para comprar algum brinquedo ou fazer algo divertido que queira muito. Na adolescência, os motivos para guardar dinheiro já são outros - como viajar, por exemplo -, mas igualmente essenciais para uma boa formação. A educação financeira, quando ensinada desde cedo, não ajuda somente no controle de gastos, pois também traz segurança para poder investir em um futuro melhor, além de mostrar que a vida financeira equilibrada exige esforço e planejamento. Com a presença dos pais e da escola, é possível formar adultos mais responsáveis e conscientes financeiramente.

De acordo com João Victor Scognamiglio, educador financeiro da Múltiplos Investimentos, é importante que a criança, desde nova, comece a ser apresentada à educação financeira de maneira lúdica e facilitada. “Quando a gente começa a entender o conceito de dinheiro, já é por volta dos seus cinco, seis anos. Já dá pra você começar a fazer algumas brincadeiras lúdicas com as crianças, no intuito de começar a trazer os conceitos básicos para que ela comece a entender o valor do dinheiro”, diz o educador.

Recompensas por tarefas extras também são uma excelente forma de ajudar a criança a entender um pouco do aspecto financeiro. “É importante que a criança entenda que para ter esses bens, brinquedos ou um momento de lazer, é importante fazer algo por ele. E o momento do ter é justamente a recompensa, e para que a gente tenha é necessário saber de onde vem o dinheiro. Então, aí os pais ou os educadores já começam a introduzir a consciência do ter, do poder, da recompensa pra criança, né? É importante saber de onde veio o dinheiro”, diz Antônia Lessa, professora e educadora financeira.

“É preciso passar para as crianças o ensinamento com adequação à idade. Quanto menor for a criança, é fundamental explicar através de um pensamento mais concreto e não abstrato. Por exemplo, as contas de cartão de crédito são pensamentos abstratos para crianças muito pequenas, então é preciso falar de maneira mais simples”, explica a psicóloga e planejadora financeira, Priscila Bastos.

Tanto para João Victor quanto para Antônia Lessa, a educação financeira deve começar em casa e ser complementada na escola. O papel dos pais ou responsáveis é essencial, já que crianças e adolescentes são bastante influenciáveis por atitudes adultas, e costumam usá-los como inspiração. “Antes de ensinar aos filhos como investirem, os pais precisam ter esses hábitos dentro de si”, continua João Victor. A influência também vai além dos hábitos e funciona bem quando um responsável mostra algum vídeo sobre o assunto para a criança, a coloca em cursos para que aprenda educação financeira, lê algum livro ou até mesmo leve para a ponta do lápis os ensinamentos gerados. Levar os jovens para ajudar nas compras do mês também é uma forma de fazer com que eles entendam como funciona o dinheiro e o poder de compra atual.

Como forma de auxiliar o dever dos pais em mostrar como funciona a vida financeira, foram criados vários aplicativos, como o Tindin. Ele funciona como um metaverso educacional, um jogo, em que os pais podem depositar uma mesada para os filhos, subsidiar a rentabilidade, gerenciar tarefas e recompensas para eles, além das vantagens de possuir uma biblioteca virtual com vários e-books sobre educação financeira e a possibilidade de até mesmo criar uma carteira digital com maquininha e um chat para os pais se comunicarem com as crianças.

Bancos como o Inter, Next e o BS2 também possuem uma proposta para menores de idade. É possível os responsáveis controlarem não somente os gastos dos filhos, mas também depositarem a mesada, entre outras interatividades. O Banco Next, pertencente ao grupo Bradesco, ainda possui uma personalização com personagens da Disney, deixando a interação ainda mais divertida e lúdica.

O papel da escola, por outro lado, precisa mostrar como a sociedade lida com o dinheiro, quais são os maiores problemas que as famílias brasileiras enfrentam, ensinar a fazer um orçamento familiar, ensinar a usar o cartão de crédito de maneira correta, como investir dinheiro e fazer render e até mesmo como não virar refém de uma dívida. São esses conceitos, segundo o educador financeiro João Victor, que o colégio pode tratar com os alunos, para que eles saiam mais preparados para a vida adulta.

No Colégio Imaculado Coração de Maria, em Olinda, o professor de matemática Robertto Brasilino, acha que as escolas precisam ensinar os riscos para seus alunos, principalmente na fase da adolescência. Com a grande ascensão das apostas futebolísticas, é possível ver muitos adolescentes apostando diariamente sem medir os riscos que essas apostas possuem. A partir do momento em que o aluno começa a entender como funcionam os investimentos e que tipo de investidor ele pode vir a se tornar, os riscos diminuem e os meios se tornam mais certeiros.

“Para eles é algo como ‘eu preciso saber como é que eu vou investir’, ‘preciso saber como é que vou fazer com o meu dinheiro’.Tem situações em que às vezes chega aluno com o questionamento ‘se eu fizer tal movimento e tal movimento, quanto por cento de chance eu tenho…', que é uma coisa que para nós é interessante, porque dá para a gente introduzir e trabalhar com eles sobre probabilidade, análise combinatória. O colégio integrou educação financeira junto com uma disciplina para o primeiro ano (Ensino Médio)", diz o professor.

Além disso, o colégio possui um projeto interdisciplinar, o “Imaculado+Cultura”, que esse ano contemplará oficinas de empreendedorismo e sustentabilidade, em que os alunos terão que fazer atividades com materiais reciclados, torná-los mais atrativos para venda e gerenciar essas vendas.

Quando questionados, os alunos costumam dizer que a educação financeira é um estudo que tem o objetivo de melhorar o entendimento sobre financiamento e até mesmo saber administrar o dinheiro com inteligência. Rafael Andrade, aluno primeiranista do Colégio Imaculado Coração de Maria, 15 anos, acha que é preciso incluir mais as orientações sobre a vida financeira no ambiente escolar. Com o desejo de se tornar perito criminal, Rafael acha que aulas de educação financeira são importantes. “Podem me ajudar a mudar meus hábitos de consumo e a aprender a planejar e investir melhor meu dinheiro”, disse o estudante.

“Eu acho que falta, além de dar um foco maior nessa área por parte de todos os colégios, ensinarem a reconhecer suas condições e a partir daí tirar as necessidades, prioridades ou objetivos”, diz Beatriz Leal, aluna do 9º ano de um colégio particular de Olinda. A tendência é que cada vez mais os jovens se interessem por finanças, controle de gastos e investimentos, exigindo assim uma responsabilidade maior das escolas e famílias para que os ensinamentos cheguem até eles.