Nicarágua

ONG de direitos humanos pede libertação de bispo detido na Nicarágua

Rolando Álvarez é um crítico do governo de Daniel Ortega que foi levado à força nesta sexta-feira (19) para Manágua e posto em prisão domiciliar

O bispo Rolando Álvarez - STR / AFP

O Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh) pediu neste sábado (20) a libertação do bispo de  Matagalpa Rolando Álvarez, um crítico do governo de Daniel Ortega, levado à força nesta sexta-feira (19) para Manágua e posto em prisão domiciliar.

Monsenhor (Álvarez) tem que voltar à sua diocese e ser livre dentro de seu país, pediu o Cenidh em um comunicado publicado em suas redes sociais.

"Exigimos liberdade para todos o sacerdotes e laicos que estão em (a prisão) El Chipote", acrescentou.

A ONG de defesa dos direitos humanos foi proscrita em 2018 pelo Parlamento, no contexto de uma crise política resultante dos protestos antigovernamentais que, segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, deixaram 355 mortos e milhares de exilados.

A polícia invadiu na madrugada de sexta-feira a cúria de Matagalpa, no norte do país, onde Álvarez era mantido sob vigilância das forças de segurança desde 4 de agosto, e o transferiu à força para Manágua.

A condição física de Álvarez, de 55 anos, "está deteriorada", mas seu "ânimo e espírito estão fortes", disse a Arquidiocese de Manágua, presidida pelo cardeal Leopoldo Brenes.

As autoridades abriram uma investigação sobre o líder eclesiástico por "organizar grupos violentos" e incitar o "ódio" para "desestabilizar o Estado da Nicarágua".

Antes de ser sitiado na cúria, onde mora e trabalha, Álvarez denunciou o fechamento pelas autoridades de cinco rádios católicas e exigiu respeito à "liberdade" religiosa.

A Conferência Episcopal do México lamentou neste sábado (20) a delicada situação da Igreja na Nicarágua, que se "agrava" a cada dia, e uniu-se a outras conferências do continente para exigir "a libertação imediata" de Álvarez e seus colaboradores.

Enquanto isso, o arcebispado da Venezuela condenou os acontecimentos, que descreveu como uma expressão "hostil" contra a Igreja e demonstra a "grave deterioração" dos direitos e garantias dos nicaraguenses, instando igualmente o respeito à vida e à integridade do clero e a liberdade de culto e religião para todos.

A detenção do bispo é o episódio mais recente de uma série de desencontros entre o governo e a Igreja Católica a partir de 2018, quando os templos deram refúgio a manifestantes feridos nos protestos ocorridos naquele ano.

O governo acusa os bispos de terem se aliado à oposição para tirar Ortega do poder em um golpe de Estado frustrado promovido por Washington.

Ortega, um ex-guerrilheiro de 76 anos, governou o país pela primeira vez entre 1979 e 1990. Ele perdeu as eleições naquele ano para uma coalizão de direita e voltou ao poder em 2007, onde se mantém depois de três reeleições consecutivas.