Travessia de migrantes no Canal da Mancha bate recorde em 24 horas
Foram quase 1.300 migrantes em apenas um dia
As travessias ilegais em pequenas embarcações no Canal da Mancha não param de aumentar e registraram um recorde, com quase 1.300 migrantes em apenas um dia, apesar dos planos do governo britânico para interromper o fluxo.
A viagem é muito perigosa por uma das rotas marítimas mais movimentadas do mundo, que separa o Reino Unido do continente europeu.
Um total de 1.295 migrantes cruzaram na segunda-feira (22) o Canal da Mancha em pequenas embarcações para alcançar as costas inglesas, o maior número registrado em apenas um dia, informou o ministério britânico da Defesa.
Os migrantes fizeram a travessia em 27 embarcações e elevaram a 22.670 - segundo a agência Press Association - o número de pessoas que completaram a viagem perigosa desde o início do ano.
O recorde anterior para apenas um dia era de 1.185 pessoas em 11 de novembro de 2021.
A imprensa britânica publicou na segunda-feira imagens de muitos migrantes socorridos e levados ao porto de Dover, incluindo crianças e bebês. Os migrantes aproveitaram o bom tempo, após alguns dias de condições meteorológicas mais difíceis.
Para Jean-Claude Lenoir, presidente da associação Salam, "isto acontece todos os dias em que não há vento".
Os migrantes "não ficam na França porque as condições de vida são deploráveis", afirma Juliette Delaplace, da organização 'Catholic Aid'. "Sempre há um aumento no verão porque é muito difícil sobreviver nas ruas de Calais no inverno", disse à AFP, a respeito da cidade costeira do norte da França de onde partem muitas embarcações.
No ano passado, as autoridades do Reino Unido interceptaram e desembarcaram 28.526 pessoas que tentavam atravessar a movimentada via marítima.
Um relatório parlamentar britânico recente calculou que o total pode alcançar 60 mil pessoas este ano, apesar das reiteradas promessas do governo conservador britânico que, após o Brexit, considera o tema prioritário e paga milhões de libras à França por ajuda na vigilância de suas costas, além de ter aprovado medidas mais severas para a recepção dos migrantes.
Tensão entre Paris e Londres
A situação provoca tensão entre Londres e Paris, depois que o governo do Reino Unido acusou a França de não fazer o suficiente para interromper as viagens.
Em uma tentativa de solucionar o problema, as leis foram endurecidas contra os grupos de traficantes de seres humanos responsáveis pelas travessias.
Mas o polêmico plano britânico de enviar alguns migrantes para Ruanda foi interrompido por uma série de ações legais.
O governo britânico defendeu o plano como algo necessário devido ao elevado custo para processar os pedidos de asilo e abrigar os migrantes.
O jornal conservador Mail on Sunday informou recentemente, com base em uma série de vazamentos de dados da inteligência militar, que a maioria dos demandantes de asilo no Reino Unido procede da Albânia, apesar de o país não estar em guerra.
A ONG Anistia Internacional denunciou "as vergonhosas posturas do governo" britânico, ao considerar que é necessário "propor itinerários seguros" aos migrantes para acabar com as travessias perigosas.
Ao menos 203 pessoas morreram ou desapareceram desde 2014, em terra ou mar, nas tentativas de chegar ao Reino Unido a partir da costa norte da França, incluindo 27 em um naufrágio no fim de 2021, segundo a Organização Internacional das Migrações.