Feminicídio

Tiro que atingiu Renata Alves não foi acidental, conclui inquérito policial

Disparo feito pelo suspeito do crime foi dado a curta distância

Detalhes do inquérito foram apresentados em coletiva de imprensa - Arthur Mota/Folha de Pernambuco

A Polícia Civil de Pernambuco, após a conclusão do inquérito policial que investiga o assassinato de Renata Alves Costa, encontrada morta no apartamento em que morava em Campo Grande, no Recife, descartou a possibilidade de que o tiro que atingiu a vítima tenha sido dado de forma acidental, como alegou, em primeiro depoimento, o então namorado de Renata, suspeito do crime. Ele foi indiciado por feminicídio, posse ilegal de arma, constrangimento ilegal e violência psicológica

De acordo com o delegado responsável pela investigação, Roberto Lobo, titular da 2ª Delegacia de Homicídios, o inquérito apontou que o tiro foi dado a curta distância.

"Renata foi assassinada covardemente. (...) O indiciado alega em seu interrogatório que estava fazendo uma demonstração do uso da arma, mostrando para a vítima, e que houve um disparo acidental na hora em que ele iria desarmar o gatilho. Ficou comprovado pela perícia tanatoscópica que foi um tiro a curta distância, e a tão curta distância devido à zona de pólvora, que se ele estivesse realmente ensinando ou demonstrando algo a ela, ela sequer iria ver", disse.

"Ele também alega que ela estava deitada, o que foi descartado pela perícia de local de crime, que afirma que ela estava ou sentada ou em pé. E, somado a isso, há todo um contexto de violência doméstica que, mesmo na semana anterior ao fato, havia brigas, havia discussões", acrescentou. 

As investigações também apontaram a frieza do acusado. Ele foi preso no dia 9 de agosto, no Aeroporto de Natal, no Rio Grande Norte. 

Foto: Reprodução TV Globo

"Tinha muito agressão, ele quebrava a casa inteira", comentou o delegado. Durante o inquérito, a polícia teve acesso ao celular da vítima e às mensagens que ela trocava com o então companheiro. 

De acordo com as investigações, o casal estava junto há oito meses. Em março, o suspeito se mudou para o apartamento de Renata e as agressões e violências aumentaram. "Ela viveu uma prisão domiciliar com ele", disse o delegado.

O inquérito apontou, ainda, que as agressões e xingamentos verbais eram frequentes. “Ele xingava, falava sobre o peso, dizia coisas que machucam qualquer mulher”, comentou Lobo.

A pressão psicológica fazia parte do relacionamento do casal. “Ele desmarcava encontro quando ela já estava arrumada, falava que ia terminar o relacionamento, bloqueava do WhatsApp. E depois se fazia de vítima, tanto que muitas vezes era ela quem pedia desculpa”, informou, frisando que o suspeito chegou a cuspir em Renata em determinado momento.
 
Segundo as investigações, o suspeito chegou a ameaçar Renata e sua família. Ela já vinha tentando terminar o relacionamento antes de ser assassinada. “Ela pediu para ele sair de casa mais de uma vez”, comentou o delegado Roberto Lobo.
 
O suspeito era servidor do Tribunal de Justiça da Paraíba, mas foi demitido após se envolver em um caso de violência contra a ex-esposa em 2019, em um hotel em Boa Viagem.

Ele também possui mestrado em psicologia, o que, segundo as investigações, teria contribuído para que o homem conseguisse "entrar na mente” da vítima. No início do relacionamento com Renata, ele mentiu dizendo que era médico, profissão exercida pelo pai.
 
Também buscava esconder a tornozeleira eletrônica que utilizava devido ao crime ocorrido há três anos, usando sempre calças compridas. Após Renata tomar conhecimento do item, ele teria dado sua versão sobre o caso, alegando inocência. Ela também tinha medo das armas de fogo que o suspeito mantinha no apartamento, tendo pedido por diversas vezes que ele se desfizesse delas.
 
Durante as investigações, a polícia também encontrou quase 200 munições de arma de fogo na casa do suspeito. Ele foi preso em Natal, quando se preparava para viajar para São Paulo, o que, para a polícia, indicava mais um desejo de fuga.

“Ele não tinha intenção alguma de se entregar”, frisou o delegado. Após a conclusão do inquérito policial, as investigações serão encaminhadas à Justiça e ao Ministério Público.