Gêneros como brega-funk e pisadinha garantem entretenimento a multidões
Se de passagem pela MPB ou se vieram para ficar, gêneros são os mais queridinhos quando o assunto é entretenimento do público
Talvez a pretensão de MC Loma e as Gêmeas Lacração com “Envolvimento” (2018) fosse apenas alcançar os arredores de Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife (RMR), onde moravam. Uma suficiência que, decerto, não deixaria frustrado o trio de amigas que, afinal de contas, à época, passeavam por uma adolescência de sonhos em um futuro como artistas.
Internet como gatilho
Mas o alcance dos compartilhamentos na internet levou elas e o brega-funk – gênero já estourado na periferia recifense – Brasil e mundo afora, em proporções de angariar com o combo Kondzilla + novo clipe da música, cerca de 300 milhões de visualizações. A batida Nordestina no funk estava garantida, portanto, com outros nomes também como Dadá Boladão e Shevchenko e Elloco.
Mas a pegada da vez, no entanto, atende por “pisadinha” – ou piseiro, como derivação. Embora diversos em sonoridade, modo de produção e ritmo, o sotaque, tanto do brega-funk quanto da pisadinha, é também nordestino e tem ares de fenômeno da música popular com protagonistas que vão de Barões da Pisadinha a João Gomes, este último um dos gigantes atuais do gênero que tem Zé Vaqueiro, Tarcísio do Acordeon e Natan também entre os maiorais. Se seguirão tais quais e até quando, não se sabe.
“Esse fenômeno vem da explosão nacional da axé music, quando se implantou a monocultura musical no País. Até então, embora um ou outro gênero predominasse, havia equilíbrio. Mas sempre houve um predomínio de determinados estilos ou gênero no mercado musical. Teve a época do bolero, do baião, do samba.
Em plena era do rock dos anos 1980, Caetano Veloso passou a vender bem, Genival Lacerda vendia bem, sertanejos vendiam”, explica José Teles, jornalista e crítico de música, que complementa: “A axé tomou conta na época talvez por sentir que aquele tipo ‘música carnavalesca’ não lhe parecia durar muito, o pessoal das gravadoras investiu pesado e popularizou a música baiana, que se tornou repetitiva. Passou a ser em larga escala, para um público menos exigente.”
Gênero para entretenimento
A lógica do público que “só quer pular atrás dos trios” pode ser extensiva ao público que deseja apenas entretenimento e, portanto, prioriza ritmos como o brega-funk e a pisadinha pelos passos marcados por malemolência e diversão. E principalmente em tempos pós-pandêmicos somado à necessidade (e ao querer) finalmente migrar do universo virtual imposto pela Covid-19 para o corpo a corpo dos palcos de ruas, também é fator que pode ser levado em conta quando “fenômenos” dos ritmos são anunciados. Que o diga o recente “Acredite” – show do astro pernambucano João Gomes no Bairro do Recife, para gravação do primeiro DVD de carreira, no último 17 de agosto, para um público que beirou 100 mil pessoas.
Contrafluxo: do Nordeste para o Brasil
“O forró puxado pela pisadinha foi o único gênero musical que só cresceu no Top 200 do Spotify entre 2017 e 2020”, ponderou GG Albuquerque, jornalista e doutorando em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), trazendo à tona levantamento feito por Rodrigo Ortega, especialista em música do portal G1 de São Paulo.
“E em 2020 foi o gênero mais ouvido do Brasil, agora estamos em 2022 e continua se falando sobre ela, que absorve outros elementos e é um tipo de música que se renova musicalmente, além de permitir continuidade da carreira dos cantores, quebrando um ciclo vicioso de estourar uma música nacionalmente e depois voltar para sua Região”, complementa.
Já para Teles, “forró de verdade” não tem nada a ver com “bandas que se dizem de forró”. "Piseiro é um sertanejo mesclado com outros ritmos deste nicho musical. O que chamam de pagode não é pagode, o pagode verdadeiro é uma variação do samba carioca, assim como o funk batidão nada tem a ver com o funk americano. Mesmo assim, a música popular nas últimas décadas, qualidade à parte, é inovadora. Não precisa de gravadoras, pode ser composta em computador, mudando letras e usando frases melódicas repetitivas”, comenta Teles.