Gastronomia

Saiba como harmonizar vinho com comida nordestina

Com a bebida certa, é possível engrandecer o sabor da comida (e vice-versa), melhorando a experiência à mesa. Confira algumas dicas

Baião de dois do restaurante Bode do Nô - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

Com o aumento no consumo de vinhos no Brasil, cresce o interesse por um universo ainda misterioso para muita gente. A harmonização, cuja palavra se aplica à intenção de “equilibrar” ou “concordar” com algo, ganha sentido amplo quando o assunto é bebida e comida. Eis a missão de valorizar ou suavizar os sabores que vão à boca. Parece difícil? Não, se você estiver disposto a testar na sua próxima refeição.
 

Contraste ou semelhança

Para começo de conversa, saiba que dois caminhos são possíveis no processo de harmonização: por semelhança ou contraste. No primeiro caso, a intenção é buscar características semelhantes no prato e no vinho. É como escolher um prato pesado, a exemplo de uma feijoada, e tomar um vinho tão encorpado quanto. Já na segunda opção, como o próprio nome adianta, acontece quando estilos diferentes de sabor se misturam.

Para a sommelière Eduarda Figueiredo, da Entre Vinhos, existe uma conta lúdica que propõe “2 + 2 = 5”. “Quer dizer que, quando temos uma comida servida com o vinho correto, o prazer é multiplicado, porque todas aquelas reações na boca melhoram tanto a bebida quanto a comida”, diz a especialista, lembrando ainda um ponto importante no processo. “Harmonização se dá na boca. A gente aprende e repassa aos nossos filhos que se deve mastigar, engolir e depois tomar o suco. Nesse caso, temos que fazer acontecer tudo junto na boca. Quando é feito da forma errada, a gente tem gostos esquisitos na boca e desprazeres”, completa. 

Algumas dicas básicas

Da mesma forma que a digital é única, o paladar também é individual. Aqui vale a máxima do “tem gosto para tudo” - e isso deve ser respeitado. “Então cada pessoa vai sentir de forma diferente. Mas alguns parâmetros básicos são importantes”, adianta Eduarda.

Para ela, vale destacar que a gordura na comida combina muito bem com a acidez do vinho. Não à toa, uma feijoada cai super bem com fatias de laranja ou abacaxi. Partindo desse princípio, porque não servir o famoso prato brasileiro com um espumante rico em acidez?

Mas atente: de nada adianta a combinação perfeita, se o ambiente não condiz com a experiência. A sommelière continua! “Se eu estiver em uma praia, no calor danado, sol a pino e abrir um vinho tinto, eu posso colocar a melhor carne do mundo na mesa, mas irei suar tanto. Agora imagine estar nessa mesma praia, comendo algo refrescante, como um ceviche. Vamos tomar algo por similaridade bem gelado?”, propõe.

Os vinhos ácidos também valem para queijos cremosos. Eles ativam a salivação, diferentemente de um tinto, cuja tendência é secar a boca.

Comida nordestina

Sim, é possível elevar a experiência tendo à mesa pratos como o sarapatel - preparado com tripas ou vísceras de porco e sangue coalhado. “Combina muito com espumante brut, que tem um pouquinho de dulçor, Já o sarapatel tem molho forte e bastante condimento. Assim, a acidez dessa bebida, com as borbulhas, limpa o paladar e facilita a harmonização”, orienta a estudiosa em vinhos, Marcela Cardoso, da loja Tem Festa, em produção exclusiva para a Folha de Pernambuco, no Bode do Nô em Boa Viagem.

No cardápio de clássicos nordestinos do restaurante, o baião de dois leva carne de sol, feijão, arroz, creme de queijo e queijo de coalho. “A carne pede um tinto, porém existe a acidez do queijo. Logo, eu indicaria a uva pinot noir, com acidez elevada, para lidar bem com esse queijo”, resume. Ainda segundo Marcela, o bode assado, por conta da sua gordura e quantidade de sal, pode cair bem com vinhos com taninos e acidez de médio a alto porte “como o cabernet sauvignon”, aponta.

Instagram:

Bode do Nô
@bodedono

Eduarda Figueiredo
@entrevinhos

Tem Festa
@temfesta.wines