Estudos sobre problemas neurológicos voltam à tona
Jogadores de futebol podem podem apresentar patologias parecidas com a de atletas do futebol americano, por exemplo
Quando se discute o risco de lesões no futebol, geralmente são citados pr oblemas musculares ou de ligamentos. Porém, com a decisão da Ifab (International Football Association Board) em proibir os lances de cabeçada para atletas de até 12 anos, estudos sobre problemas neurológicos relacionados à modalidade voltaram à tona. Mesmo diferente de outros esportes em que há um contato mais direto entre os praticantes, o perigo também ronda o jogo com a bola nos pés.
“Apesar do futebol não ter um impacto direto na cabeça, como boxe e futebol americano, por exemplo, há evidências de que o cérebro de alguns jogadores pode apresentar patologias parecidas com a de atletas desses outros esportes. Há trabalhos científicos de revistas como Jama (The Journal of the American Medical Association) e a New England Journal of Medicine que mostram que alguns jogadores de futebol evoluíram posteriormente para uma demência precoce. Obviamente, não é com uma frequência grande como em outras áreas. Os atletas que atuam em posições em que cabeceiam mais a bola tendem a sofrer maior risco de doenças neurodegenerativas. Os goleiros, por exemplo, não têm incidência disso por não terem o ato de cabecear a bola”, informou João Gabriel Ribeiro, neurologista e neurocirurgião.
Estudo inglês aponta riscos
O Journal of Neuropsychology, da Inglaterra, fez no ano passado um levantamento com 26 atletas aposentados, com idade média de 60 anos. Todos passaram por ressonância magnética, tomografia, eletroencefalograma (mapeando a atividade elétrica do órgão) e avaliação neuropsicológica, observando o desempenho cognitivo. Os resultados dos antigos esportistas tiveram pequenas alterações quando comparados aos de pessoas que nunca jogaram futebol. Uma delas foi o risco maior de encefalopatia traumática crônica, problema que gera inicialmente diminuição de memória, lentidão em pensamentos e ações, além de, em casos extremos, doença de Parkinson.
“As crianças, ao realizarem o ato repetitivo de cabecear a bola, tanto pelo peso do objeto como pelo gesto de movimentar o local, chacoalham o cérebro, podendo danificá-lo. Nessa faixa etária (11-12 anos), a área ainda está em desenvolvimento, ficando suscetível a danos. Elas têm áreas de córtex pré-frontal, relacionadas às emoções, sociabilidade e capacidade de regeneração cerebral, ainda em formação. Se há algum trauma repetitivo no local, é possível existir um dano no futuro. Há o caso de um jovem, que jogava desde os cinco anos de idade, e, aos 29, apresentou uma esclerose lateral amiotrófica. Tudo indica que os traumas relacionados ao cabeceio tiveram relação”, completou.
Áreas de atenção
Ainda de acordo com o neurologista, algumas áreas da cabeça merecem atenção redobrada. “As regiões mais vulneráveis são as de transição entre frontal e temporal, o que chamamos de ptério. Nesse ponto, correm vasos que, a depender do trauma, podem ocasionar uma hemorragia no cérebro. Quanto maior o peso da bola, maior o impacto também. Ser mais leve pode diminuir os riscos, mas o ato de cabecear, mexendo a cabeça, força a aceleração angular do cérebro, podendo gerar os danos”, declarou.