Igreja

Papa visita L'Aquila, na Itália, e reza diante do túmulo do primeiro pontífice que renunciou

Pontífice argentino mencionou a difícil reconstrução, não apenas física, mas também cultural, espiritual e moral da cidade, que fica a 80 quilômetros de Roma

Papa Francisco em Áquila - Domenico Stinellis/POOL/AFP

O papa Francisco visitou, neste domingo (28), a cidade italiana de L'Aquila para rezar pelas vítimas do terremoto devastador de 2009 e também orou diante no túmulo do primeiro pontífice da história que renunciou ao cargo.

Francisco elogiou "a resiliência" da população de L'Aquila durante a visita de poucas horas à cidade da região de Abruzzo, no centro da Itália, que foi destruída pelo terremoto que deixou 300 mortos e mais de 1500 feridos há 13 anos. 

"Vocês demonstraram que são pessoas com um caráter resiliente", disse o papa diante da catedral da cidade, destruída pelo terremoto.

Diante de milhares de moradores e parentes de vítimas, que receberam o papa com um silêncio comovente, o pontífice argentino mencionou a difícil reconstrução, não apenas física, mas também cultural, espiritual e moral da cidade, que fica a 80 quilômetros de Roma

Quase 50 mil pessoas perderam as casas na destruição total ou parcial de imóveis, palácios históricos e templos medievais em 6 de abril de 2009.

"Esta visita do papa é especial. É como se Jesus viesse aqui", declarou à AFP, com lágrimas nos olhos, Rita Maccarone, de 45 anos, que perdeu a cunhada e dois sobrinhos na tragédia.

O pontífice chegou pouco antes de 8H30, de helicóptero, na cidade de 70.000 habitantes. Ele celebrou a missa e a bênção dominical do Angelus. Também cumpriu o antigo rito de abertura da Porta Santa.

A visita do papa foi programada para acontecer um dia depois do consistório de posse de 20 novos cardeais e coincide com a antiga "festa do perdão" católico, que é celebrada nesta cidade desde o século XIII.

Homenagem ao papa que não se rendeu
Esta é a primeira vez em 728 anos que um papa participa nesta cerimônia, inaugurada por Celestino V, um humilde eremita que aceitou da maneira relutante sua eleição ao Trono de Pedro, teve muitos inimigos por suas reformas e renunciou ao cargo.

A homenagem de Francisco a este pontífice tão anômalo, o primeiro da história a renunciar, gerou muita especulação entre os analistas dos assuntos do Vaticano, já que recentemente, em declarações à imprensa, o papa argentino não descartou a possibilidade de renunciar por motivos de saúde.

Francisco, que tem problemas para caminhar e precisa utilizar uma cadeira de rodas em vários momentos, seguiu de papamóvel da catedral até a praça da basílica de Santa Maria de Collemaggio. Durante o trajeto, acenou para os fiéis.

"O mundo precisa do perdão, o perdão constrói a paz", afirmavam os cartazes ao longo do trajeto. 

Na basílica, famosa por abrigar a Porta Santa mais antiga do mundo e o túmulo de Celestino V, Francisco rezou pelo pontífice da "grande rejeição" que não se rendeu ao poder da época.

"Celestino V foi uma testemunha corajosa do Evangelho, porque nenhuma lógica de poder o encaixou ou dominou. Com ele, admiramos uma Igreja livre de lógicas mundanas e testemunha plena da misericórdia de Deus", destacou Francisco.

"A abertura da Porta Santa é emocionante, é um evento histórico para a cidade", disse à AFP Roberto Cobuccio, de 53 amos, que aplaudia enquanto o pontífice dava as tradicionais três marteladas na grande entrada de madeira.

Após o retorno ao Vaticano, o papa cumprirá na segunda-feira e terça-feira uma uma agenda inédita de reuniões com todos os cardeais do mundo para examinar a reforma da Cúria Romana e para falar sobre o futuro da Igreja.