Literatura

Produtor Paulo André Moraes estreia como escritor, compartilhando memórias de bastidores musicais

"Memórias de um Motorista de Turnês", da Cepe Editora, resgata memórias do produtor musical, em especial do tempo em que conduzia a cena pernambucana em turnês

Livro de Paulo André foi lançado pela Cepe Editora - Divulgação

‘Memorabilia’ ou, fatos que provocam memórias ou que são merecedores de ser lembrados. Verbete pouco conhecido/utilizado mas que por Paulo André, produtor musical pernambucano, inclusive do festival Abril Pro Rock (APR), foi bem explorado nas 164 páginas de histórias, a partir do seu baú de boas novas experimentadas no decorrer de décadas de estrada, literalmente como motorista, conduzindo artistas diversos da cena pernambucana, entre eles o lendário Chico Science e sua Nação Zumbi

Essa é a narrativa da sua estreia literária como escritor, em “Memórias de um Motorista de Turnês” (Cepe)”, pensado a partir de postagens publicadas por ele em rede social e que, desde o último dia 13 de agosto – data do lançamento do livro – foram compiladas como crônicas descritas com leveza, tal qual provavelmente seria um papo ao seu lado, em quaisquer botecos andantes do Recife.
 

Quatro décadas em 164 páginas
Foi no auge da pandemia da Covid-19 em 2020, que a cena musical da Cidade, em ebulição nos idos anos de 1990, ganhou novamente vida. Em princípio, em sua página no Instagram, para depois ser externada em um livro (físico e no formato e-book).

Tomado por lembranças fincadas em pouco mais de quatro décadas transitando entre Pernambuco, Rio de Janeiro, Nova Iorque e Europa, e sob o gatilho do isolamento social, Paulo foi impulsionado a compartilhar sua memorabilia, em especial as vivências junto a Chico Science & Nação Zumbi, banda que ganha destaque no contexto dos seus escritos. 

Em uma das passagens da obra, Paulo André conta sobre o quanto Brasília (DF) se tornaria uma das cidades em que o grupo mais tocaria. “Nos anos 1990, para uma banda (ignorada pelas rádios) conseguir fazer o seu primeiro show numa cidade com uma importante cena musical, ser gratuito era algo fundamental pro processo de formação de público. Mas não era fácil. Tinha que encaixar, ter sorte”, conta ele, em um dos trechos.

 

Produtor e motorista?
“Memórias de um Motorista de Turnês” também traz curiosidades sobre Paulo como motorista de uma van que recolhia carrinhos de supermercado, na Califórnia (EUA), assim como sobre seu retorno para ao Recife e o tempo da sua loja de discos “Rock Xpress”.

Mas é fundamentalmente sobre a trajetória em produções musicais e conduzindo artistas em turnês e, obviamente, envolvido em histórias diversas de bastidores, que a narrativa se debruça e, portanto, diverte e aguça a curiosidade de quem a lê.

“Espero que essas lembranças de um motorista de turnês possam gerar um pouco mais de interesse pela memória musical através da memorabilia, palavra pouco usada e pouco conhecida no Brasil”, ressaltou Paulo André, que em uma das instigantes ‘contações’ do livro relembra uma passagem de quando a Nação Zumbi abriu o show do retorno dos Mutantes.

"O doido do Pink Floyd"
“No dia seguinte, logo cedo, fomos passar o som para gravar o programa do Jools Holland na TV BBC. As bandas pas­savam o som um dia antes, mas a Jody Gillett, filha do radia­lista Charlie Gillett, que trabalhava para a 'Trama' no Reino Unido, conseguiu que a Nação passasse no mesmo dia.  Depois da histórica noite, fui o último a dormir e o primeiro a acordar para agilizar a ida à BBC. Passamos o som e fomos pro camarim.

Aproveitei a espera para gravação e dei um co­chilo em um sofá. Achei que estava sonhando quando de muito longe ouvi a frase ‘O doido do Pink Floyd tá aí na porta’. Achei mesmo que era sonho, mas um dos caras repetiu ‘Mermããão, é o doido do Pink Floyd, tá bem aí na porta do camarim’. Dei um pulo do sofá. ‘É sério?’ ‘Abre a porta e vê’ ‘Alguém tem uma câmera?’ Peguei um CD da Nação Zumbi, abri a porta, e lá estava a lenda David Gilmour, bem ali”. 

Serviço
 “Memórias de um Motorista de Turnê” (Cepe Editora), de Paulo André Pires

R$ 50 (livro impresso) e R$ 20 (e-book)