Como funcionam as urnas eletrônicas e por que Bolsonaro as questiona?
O Brasil é um dos 23 países do mundo que usa urnas eletrônicas em eleições gerais, segundo o IDEA
Usadas nas eleições brasileiras desde 1996, as urnas eletrônicas têm extrema confiabilidade, segundo especialistas, mas são alvo frequente de ataques do presidente Jair Bolsonaro, que sinaliza, sem provas, para a possibilidade de "fraudes".
Confira, a seguir, perguntas-chave sobre este sistema de votação, que tem provocado debate com vistas às eleições presidenciais de outubro.
Como surgiram as urnas eletrônicas
O voto eletrônico foi implementado em prol da simplificação e da rapidez, e em parte para combater as fraudes.
Os eleitores brasileiros votavam em cédulas de papel, em que deviam marcar uma lacuna ou escrever o nome do candidato de sua preferência, dependendo do tipo de eleição.
Em um país com 14% de adultos analfabetos, o sistema apresentava vários problemas. As apurações eram frequentemente caóticas e podiam demorar vários dias.
"Sempre tinha um problema na apuração, a pessoa tinha uma caligrafia ruim, escrevia no lugar errado da cédula, marcava o x fora do quadrado e o voto era nulo", explica à AFP o advogado Henrique Neves da Silva, ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Também "tinha muita fraude antes da urna eletrônica (...), um voto em branco de repente era preenchido no meio da apuração".
Com ajuda do exército, especialistas em informática, vários deles oriundos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), desenvolveram o primeiro modelo de uma urna eletrônica, que foi usado em 57 cidades nas eleições municipais de 1996.
A experiência foi bem sucedida e as máquinas foram usadas por 67% dos eleitores nas eleições presidenciais de 1998. O voto em papel foi totalmente abolido nas eleições seguintes.
O Brasil é um dos 23 países do mundo que usa urnas eletrônicas em eleições gerais, segundo o Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral (IDEA). Outros 18 as usam em eleições regionais.
Como as urnas eletrônicas funcionam?
Quando o eleitor digita o número correspondente a seu candidato no teclado da urna, a máquina exibe a foto do escolhido na tela. Basta clicar no botão verde para confirmar a escolha.
"É uma máquina simples que tem uma única função: compilar os votos", diz Henrique Neves da Silva.
Um detalhe importante: a urna eletrônica não é conectada à internet.
Após o encerramento da votação, retira-se o cartão de memória de cada máquina e o mesmo é levado a um posto local da justiça eleitoral, que, por sua vez, transmite a informação ao sistema de contabilização central em Brasília, através de uma rede independente da internet.
Em regiões remotas, como a Amazônia, pode-se usar uma conexão via satélite.
O resultado raramente demora mais de duas horas para ser conhecido em um país continental com mais de 156 milhões de eleitores inscritos.
Qual a segurança do equipamento?
O programa de contabilização dos votos é atualizado a cada eleição e pode ser auditado pelas autoridades eleitorais, pelo exército e por partidos políticos.
Também são realizados testes de segurança na presença de especialistas, que fazem simulações de manipulação das urnas.
"No teste de segurança, a urna é literalmente desmontada, tiram todas as barreiras físicas, pode-se mexer no que quiser", com uma facilidade maior do que qualquer hacker, explica Silva.
Nunca foi constatada nenhuma falha significativa.
Quais são as críticas de Jair Bolsonaro?
O presidente insiste, sem sustentação, que o sistema permite "fraudes".
Afirma, por exemplo, que deveria ter sido eleito no primeiro turno em 2018, ao invés de disputar o segundo, sem nunca ter apresentado prova alguma.
Bolsonaro não pede a volta da votação manual, mas gostaria que cada eleitor obtivesse um recibo impresso de seu voto. Ele tentou aprovar uma emenda constitucional neste sentido, mas a medida acabou sendo rejeitada no Parlamento em agosto de 2021.
Apesar de ser alvo de investigação por divulgação de informações falsas sobre as urnas eletrônicas, o presidente continua atacando o sistema eleitoral brasileiro, como fez durante uma reunião com embaixadores em Brasília.
No dia seguinte, a embaixada dos Estados Unidos elogiou o sistema eleitoral brasileiro, que "serve como modelo para as nações do hemisfério e do mundo".