Música

Paulo Netto segue em celebração a Belchior em novo disco

Cantor e compositor pernambucano lança álbum com registro ao vivo em que interpreta o artista cearense

Cantor e compositor pernambucano Paulo Netto - Dani Neves

Do clichê de ser "apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior”, Paulo Netto já não faz mais jus. O cantor e compositor pernambucano, natural de Condado, Mata Norte do Estado – mas em São Paulo “de mala e cuia” há pelo menos 14 anos – recentemente ingressou na culminância de uma década dedicada a um dos nomes mais genuínos da Música Popular Brasileira, Belchior (1946-2017).

Com o álbum audiovisual “Paulo Netto Canta Belchior – Ao Vivo” do Selo Analaga e produção musical de Dudu Borges que, encantado com o que ouviu/viu de uma interpretação de “Paralelas” no projeto Live Vip, viu-se instigado pelo lançamento de um trabalho que, definitivamente, coloca o artista da ‘terra dos altos coqueiros’ entre os (poucos) que imergiram na obra do poeta cearense, antes da “modinha” que veio à tona, de cantar e perceber a obra belchiana a partir da sua morte.

 

“Não é um encerramento, é a celebração dos dez anos e o começo de uma nova etapa. Depois de uma década cantando a obra dele, sabendo da importância e da temporalidade da obra, é importante dar continuidade ao legado e a poesia dele, completamente atual. Vendo o trabalho tomando corpo, mais gente podendo ouvir, gente nova ouvindo, eu acho importante dar continuidade”, ressalta Paulo Netto, em conversa com a Folha de Pernambuco, durante um ‘en passant’ pelas bandas de cá. 

 

Para além de novos ouvidos e palcos afora, as dez faixas do disco foram registradas em plano sequência de áudio e de vídeo, sem edição e em um único take, sem corte. “Agora eu vou”, decidiu à época Paulo Netto. E ele de fato, foi e, como diria o próprio Dudu Borges, “Diluindo as mágoas de Belchior” nas interpretações dadas a canções como “Medo de Avião”, “Como Nossos Pais”, “Paralelas” e “Coração Selvagem”, esta, a terceira faixa do álbum, personalizada sob os ares do brega pernambucano e do sotaque “da terra”.

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“Eu sempre optei pela carreira, e não pelo sucesso. E carreira é ser fiel a tua natureza, teus propósitos, ao que você acredita na vida”, ressalta ele, vencedor em 2011, como melhor intérprete, do 22º Prêmio da Música Brasileira na categoria “Vale Cantar Noel”. No ano seguinte ele lançaria o primeiro álbum de carreira, “Dois Animais da Selva Suja da Rua”. “Vem o título (o prêmio), mas vem a realidade do dia seguinte”, reflete Paulo, arrematando que “Carreira é persistência”.

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Paulo Netto também assina “Rosário de Balas” (2017), o segundo disco de sua trajetória e que para Dudu Borges “é um dos maiores da música brasileira”. “Ele disse que todo mundo que quiser entender a minha história, vai ler ‘Rosário’ e vai entender quem eu sou”, conta.

Mas o artista pernambucano também pode ser lido/ouvido/visto e decifrado em seu “Belchior – Ao Vivo”, levando em conta a atemporalidade da obra abraçada por ele desde 2012, cinco anos antes, portanto, da passagem do compositor que impôs desde sempre em seus dizeres melódicos (e sentidos), realidades nuas, cruas e distantes do romantismo por vezes ilusório que paira pelo mercado fonográfico nacional.

“Na Hora do Almoço” (1971), música vencedora do IV Festival Universitário da MPB, é um bom exemplo disso. Apesar de exibida sob a valia da Ditadura Militar e com um Antônio Carlos Belchior “inda moço para tanta tristeza”, foi ali que se asseverou para a posteridade um dos nomes mais simbólicos de uma arte que não cala, mas sobrevive em resistência graças a gerações tais quais a que Paulo Netto faz parte como artista e representante arraigado do homem que apesar de ter “sangrado demais e chorado pra cachorro”, foi/é o nosso “Sujeito de Sorte” da Música Popular Brasileira.