Grupo afirma ter caído em golpe ao comprar pacotes de viagem de empresa de turismo
Os prejuízos financeiros variam de R$ 1 mil a R$ 8,5 mil por pessoa
A Delegacia do Consumidor, no bairro de Santo Amaro, área central do Recife, recebeu dezenas de mulheres, na manhã desta segunda-feira (5), que afirmam terem sido vítimas de um golpe ao comprarem pacotes de viagem para um congresso de podologia em São Paulo.
A Polícia Civil de Pernambuco instaurou um inquérito e iniciou as investigações para apurar as ocorrências contra a agência de turismo.
Em nota, a Polícia Civil informou que “registrou, por meio de delegacias diversas, ocorrências de Estelionato/ Fraude, Outras Ocorrências Contra a Pessoa e Outras Ocorrências Ilícitas Penais”.
Os prejuízos financeiros variam de R$ 1 mil a R$ 8,5 mil por pessoa. Além da viagem para São Paulo, algumas vítimas também compraram outros pacotes, aumentando o valor pago.
De acordo com as vítimas, Maria Joselaide Pereira Alves, de 61 anos, dona da empresa de turismo Jô Turismo PE, vendeu pacotes de viagem que incluíam hospedagens e passagens aéreas para que um grupo participasse de um congresso que começa nesta segunda (5), em São Paulo.
O embarque estava marcado para o último sábado (3), mas, ao chegarem ao Aeroporto do Recife já para o embarque, as vítimas descobriram que as passagens aéreas e as reservas supostamente feitas nos hotéis não existiam.
Maria Joselaide atua há 12 anos no mercado de viagens, o que deixou as vítimas tranquilas para investirem na compra dos pacotes com a mulher.
Abalada com a situação, a manicure e estudante de podologia Paloma Dias, de 33 anos, comprou o pacote de viagem por indicações de amigas que já tinham contratado os serviços da empresa de turismo. Em agosto deste ano, ela adquiriu um pacote no valor de R$ 1 mil que incluía passagens aéreas, translado até o congresso e hospedagem referente aos quatro dias de feira. A volta seria no dia 8 de setembro.
“Todo o processo foi feito no WhatsApp, não a conheci pessoalmente. Mandaram para mim foto dela, dizendo que era gente boa, e que já tinham viajado com ela. Eu fiquei muito triste, porque era um sonho ir para lá, comprar as minhas coisas para terminar de montar a minha clínica, porque, na verdade, é tudo muito caro, uma cadeira é R$ 10 mil”, destacou Paloma.
Paloma afirmou que chegou ao aeroporto às 13h, no sábado (3), e o voo estava marcado para as 17h. Ela e um grupo de amigas ainda tentaram entrar em contato com Maria Joselaide para conseguirem as passagens, mas não tiveram sucesso.
“Quando a gente chegou no aeroporto, no sábado, e fomos fazer o check-in, não tinha reserva de nada e quando ligamos para o hotel, também não tinha reserva. Quando a gente deu início ao check-in, ela mandou uma mensagem para uma colega da gente dizendo que o voo tinha sido adiado, e eu já comecei logo a chorar. Depois que vimos que não tinha passagem fomos para a Delegacia do Turista, no aeroporto mesmo, para abrir o boletim de ocorrência. Eu fiquei até meia-noite lá tentando resolver ainda a passagem, e ela dizendo que ia dar um jeito”, afirmou.
Além do prejuízo financeiro, Paloma ressaltou que está com o psicológico bastante abalado. “Eu só choro, já chorei tanto, meu esposo queria muito que eu fosse. Eu disse no aeroporto ao pessoal da companhia aérea que ela realmente mexeu no meu bolso, mas ela mexeu mais ainda com a minha alma”.
O delegado do consumidor Hilton Lira, que está à frente do caso, pontuou que as primeiras informações trazidas pelas vítimas constam uma possível ocorrência de estelionato e de propaganda enganosa. Ele deixou claro que o congresso de podologia não tem relação com o ocorrido.
“A gente ainda não tem o quantitativo de boletins de ocorrência, porque, a cada momento, chegam mais pessoas. Temos informações trazidas pelas vítimas que várias compareceram na Delegacia do Turista, no aeroporto, outras se dirigiram para a central de plantão da capital, e outras estão indo para as demais delegacias. De sábado para cá, as vítimas estão procurando as unidades policiais para fazerem esse boletim de ocorrência. Com isso, poderemos começar a apuração desse possível ilícito”, explicou.
As irmãs Thais Guedes, de 28 anos, e Thamires Guedes, de 30, também tinham o sonho de participar do congresso. Em julho, resolveram comprar o pacote de viagem na empresa, incluindo transporte aéreo, e hospedagem para as duas, que são profissionais na área da beleza, e para o marido de Thais. O prejuízo final foi de quase R$ 4 mil. Todo o trâmite financeiro foi feito de forma presencial e Thais conheceu a dona pessoalmente.
“Eu tinha comprado o pacote, inclusive foi por indicação de uma amiga minha que já viajou com ela mais de três vezes. Compramos esse pacote, ficamos de viajar no dia 3, mas quando foi uma semana antes eu entrei em contato para ela me mandar o localizador do voo, mas ela falou que não poderia mandar, porque era um grupo, tinha muita gente e só poderia fazer o check-in na hora, não podia fazer antes, on-line”, destacou Thais.
Ao notar que não existiam as passagens, as irmãs e o grupo que estavam à espera para viajar no aeroporto tentaram entrar em contato com a dona. Thais afirmou que a espera durou entre 14h e 22h30, mas nada foi resolvido.
“Quando eu menos esperei, ela mandou uma mensagem no meu WhatsApp falando que infelizmente o grupo foi cancelado. Ela disse que tudo que era para dar errado deu e o que não era para acontecer aconteceu e eu perguntei o porquê, ela disse que não sabia dizer. Ela não sabe dizer o que aconteceu. A gente ficou desesperado, começou a procurar as pessoas, e ela começou a pedir perdão pelo WhatsApp, dizer que iria devolver o dinheiro da gente, mas não deu nenhum suporte. Tive um prejuízo financeiro e psicológico. Ela acabou com os nossos sonhos”, disse.
A reportagem da Folha de Pernambuco tentou entrar em contato com a responsável pela Jô Turismo PE, mas não obteve retorno.
Cuidados necessários
O delegado Hilton Lira orienta que a população fique atenta para não cair em golpes envolvendo pacotes de viagem. De acordo com ele, é necessário ver a idoneidade das empresas, se elas estão bem estabelecidas, o tempo de mercado, as instalações físicas e a solidez financeira dessas empresas.
“É necessário ver também a compatibilidade da viagem que está sendo oferecida, ao seu valor financeiro. Quando algo é altamente desproporcional do que está sendo oferecido, com o que vai ser pago, provavelmente tem algo de errado ali. Muita vantagem oferecida, na verdade, o barato pode sair muito caro”, afirmou o delegado.