Tempos áureos da psicodelia recifense vêm à tona em livro de Rogério Medeiros
"Valsa dos Cogumelos - A Psicodelia Recifense 1968/1971", traz histórias curiosas vividas por artistas e bandas de uma época revolucionária da música brasileira
Lula Côrtes, Zé Ramalho, Alceu, Robertinho do Recife, Geraldo Azevedo, Zé da Flauta e Ave Sangria eram/são o que se pode chamar de “êta turma boa” da cena da contracultura pernambucana dos anos de 1970. Faltam outros nomes, outras prosas, outros deleites integrantes de uma geração que permeou aquela década e mais precisamente entre 1968/1981 – momento de ebulição da cena que integra os escritos do jornalista e pesquisador Rogério Medeiros e a sua “Valsa dos Cogumelos – A Psicodelia Recifense”, livro recentemente lançado e que traz ao longo de suas poucas mais de 250 páginas, narrativas desses e de outros artistas e bandas reinantes pelas bandas de cá, cuja importância perambula pela Música Popular Brasileira (MPB) até os dias atuais.
A pesquisa que culminou na publicação da obra veio do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) do autor, enquanto estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em 2004.
O 'udigrudi' dos anos 1970
O título do livro carrega o nome de uma música do disco “Satwa” (1973), de Lula Côrtes e Lailson, “Valsa dos Cogumelos” – trabalho produzido na histórica Rosenblit, e que deu o ‘start’ ao movimento revolucionário da psicodelia recifense ou, como alguns denominam, do 'udugrudi' local. Um dos manifestos culturais mais ousados da época estava, portanto, aplicado, e a proposta de ir de encontro ao que era considerado um marasmo do mercado fonográfico culminou em discos transformadores que alcançariam gerações adiante.
Música "fora da caixa"
“Durante mais ou menos uma década, esse pessoal criou música que não estava exatamente em conformidade com o mercado da época. Mais do que isso, eles desafiaram os valores sociais ultrapassados de então, com cabelos longos e ideias libertárias.
Nesse período gravaram discos que resistiram ao tempo e hoje acumulam fãs por todo o mundo”, descreve Rogério em um dos trechos iniciais do livro, destacando que os artistas da época em que a história é contada não são traduzidos como manifestantes ou grupos integrantes de um movimento, mas como “um bando de malucos” sedentos em mostrar novos caminhos da música que faziam, tendo à disposição, entre outras coisas, “uma gravadora local disposta a receber aquela proposta”.
Letras, discos e memórias
Além de depoimentos, entrevistas e material que inclui resenhas e matérias jornalísticas da época, entre outros apurados, “Valsa dos Cogumelos – A Psicodelia Recifense” também tem páginas enriquecidas por imagens que rememoram, por exemplo, o “Concerto Chaminé” (1974), com a estampa do ingresso de acesso ao evento trazendo a imagem de Marconi Notaro. “A data foi marcada para 24 de agosto e um valor de cinco cruzeiros foi estipulado para a entrada. Às vésperas do concerto, os jornais já anunciavam cerca de 20 bandas e compositores que subiriam a palco (em Olinda, no pátio do Mosteiro de São Bento)”, descreve o autor.
Em outras passagens aparecem fotografias de “Lula e o seu tricórdio”, assim como registro do show “Fora da Paisagem”, apresentado no Teatro do Parque por Marco Polo, Ivinho e Almir, os rapazes (subversivos) do “Tamarineira Village” – nome que antecedeu a Ave Sangria.
“A apresentação no Teatro do Parque foi um grande passo à frente no que diz respeito tanto à experiência do grupo em cima do palco quanto a sua popularidade crescente na cidade”, conta no livro, Rogério que, encerra as páginas com um capítulo dedicado à “Discografia Selecionada”, presenteando o leitor com um acervo solar de álbuns que passariam a fazer parte da memória infinda da música brasileira. Vale citar o disco de “Alceu Valença & Geraldo Azevedo” (1972) e “Satwa” (1973), de Lailson e Lula Côrtes e os mais recentes “Vendavais” (2019), do Ave Sangria e “Ex-Tudo”(2020), do saudoso Flaviola.
Serviço
“Valsa dos Cogumelos – A Psicodelia Recifense”, de Rogério Medeiros
Preço: R$ 65 à venda na loja Passa Disco (Espinheiro) e no site valsadoscogumelos.com.br