Afeganistão

Estado Islâmico reivindica autoria de atentado em Cabul

Atentado matou dois funcionários da embaixada russa em Cabul e quatro afegãos em agosto de 2021

Estado Islâmico - Wikipédia

O grupo jihadista Estado Islâmico (EI) reivindicou, nesta segunda-feira (5), a autoria do atentado que matou dois funcionários da embaixada russa em Cabul e quatro afegãos, no primeiro ataque contra uma missão estrangeira desde que os talibãs retomaram o poder no Afeganistão, em agosto de 2021. 

Um combatente do grupo EI "acionou seu cinto de explosivos durante um encontro com a participação de funcionários russo" perto da embaixada, informaram os extremistas em um comunicado publicado no Telegram.

O agressor detonou a carga explosiva perto da entrada da seção consular da embaixada. "Estamos falando de um ataque terrorista. É inaceitável", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, à imprensa.

O Ministério das Relações Exteriores afegão confirmou a morte de dois funcionários da embaixada. Além disso, quatro afegãos que aguardavam para acessar os serviços consulares também morreram, e vários outros ficaram feridos, segundo a polícia de Cabul. 

Desde que o Talibã voltou ao poder, a violência no Afeganistão diminuiu bastante. Mas vários ataques com bomba, alguns contra comunidades minoritárias, abalaram o país nos últimos meses, muitos deles reivindicados pelo grupo jihadista Estado Islâmico (EI).

Assim como em outros ataques recentes, os serviços de segurança do Talibã rapidamente isolaram a área e impediram a mídia de filmar perto do local. 

Nenhum grupo reivindicou o ataque por enquanto.

O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que medidas imediatas foram tomadas para reforçar a segurança na embaixada, localizada em uma das principais ruas de Cabul, que leva ao prédio do Parlamento.

'Fragilidade' dos serviços de inteligência
 

O ataque representa um problema para os líderes talibãs, que, durante meses, incentivaram os países estrangeiros a reabrirem suas missões diplomáticas em Cabul, dizendo que a segurança estava garantida. 

Durante a caótica tomada de poder do Talibã no ano passado, a embaixada russa foi uma das poucas que permaneceu aberta, já que a maioria dos países fechou suas legações e retirou seus funcionários do país. 

O ministério das Relações Exteriores afegão anunciou uma investigação e disse que as autoridades "não permitirão que inimigos sabotem as relações entre os dois países com ações tão negativas". 

O analista de segurança afegão Hekmatullah Hekmat observou que o ataque mostra a "fragilidade" do governo em termos de inteligência. "Se não podem impedir ataques assim no coração de Cabul, então não podem fornecer segurança em campo", disse à AFP. 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou com firmeza o atentado e transmitiu seus pêsames às famílias das vítimas.

A Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama) observou no Twitter que o atentado enfatiza "a necessidade de que as autoridades de fato tomem medidas para garantir a segurança das pessoas e das missões diplomáticas".

Na última sexta-feira, um atentado suicida em uma das maiores mesquitas do oeste do Afeganistão, na cidade de Herat, matou ao menos 18 pessoas, incluindo um imã influente.

O clérigo Mujib ur Rahman Ansari, que havia pedido a decapitação daqueles que cometerem "o menor ato" contra o governo, morreu nesse ataque. 

Este é o segundo clérigo pró-Talibã que morre em uma explosão em menos de um mês, depois que Rahimullah Haqqani foi morto em um ataque suicida em sua madraça de Cabul. 

Várias mesquitas em todo o país foram atacadas este ano, algumas em atentados reivindicados pelo EI. 

Em 17 de agosto, pelo menos 21 pessoas morreram e dezenas ficaram feridas quando uma explosão destruiu uma mesquita repleta de fiéis em Cabul. 

O EI visa principalmente comunidades minoritárias, como xiitas, sufis e sikhs. Embora o EI seja um grupo islâmico sunita, como o Talibã, ambos são rivais e diferem muito em termos de ideologia. 

Segundo o governo, o EI foi derrotado, mas especialistas dizem que o grupo é o principal desafio de segurança para os novos líderes islâmicos do país.