Opinião

O velho dia 7 de setembro

Neste ano, tão cheio de sentimentos antagônicos, não só em tema político, como também nas demais áreas da vida, as comemorações que marcam a “Independência do Brasil” não deixaram de ser atingidas por esse antagonismo.

No entanto, não deveria ser assim, pois a data sempre foi celebrada com o sentimento de civilidade e de patriotismo (sem conotação política, frise-se), que nós, os brasileiros, sempre tivemos nas veias, independentemente de polarização e antagonismos políticos.

Lembro demais dessa época, principalmente em Sobral, quando ainda com tenra idade, acordávamos cedo para prestigiar o desfile militar e civil.

Naqueles saudosos tempos (década de 80, principalmente), embora em meio às disputas político-ideológicas naturais de eleição, as comemorações da Independência não eram contaminadas pela mesquinhez d’agora, mesmo durante os anos em que os militares governavam a Nação. Na real, o que havia mesmo era mais respeito para com o País e para com nossa gente, bem diferente dessa inversão de valores, a que, desgostosamente, vemos hoje.

Outro ponto que distava bastante do presente, estava relacionado à seriedade e à nacionalidade de que nos muníamos, no ritual do desfile. Como civil, participei não só como estudante, mas como “damista”, numa ocasião em que a Academia Sobralense de Jogos de Damas, desfilara.

Presentemente no Brasil, em meio às associações que se fizeram entre a data, as Forças Armadas e a conjuntura política, perdeu-se muito do encanto e do entusiasmo de que se revestiram os saudosos desfiles do “Sete de Setembro”.

Para ser mais exato, esse sentimento deturpado de nacionalismo, de pátria e de civismo, parece ter atingido todas as áreas de nossas relações. Qualquer tema sobre o qual se fale hoje, suscita discussões que, direta ou indiretamente, deságuam em infrutíferas convicções ou opiniões políticas.

Perdemos um bocado da naturalidade de outrora, em que a brasilidade estava, realmente, acima das idiossincrasias. Mais temeroso ainda é saber que esse sentimento se instalou em nossos corações, de forma tão acintosa e medonha, que parece não ser mais possível dele se desvencilhar.

Se pudesse ter amarrotado aquele passado no bolso, não só de minhas memórias, mas de nossos eternos sentimentos, a angústia seria bem diminuta; as relações muito mais duradouras; as amizades mais verdadeiras e puras; e o patriotismo, indubitavelmente natural e legítimo, para que os espinhos d’agora não ferissem mais e mais o coração da brava gente brasileira, para longe, “longe vá temor servil”.

 

*Defensor Público e professor



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