Em "Gente de Coragem", Hillary e Chelsea Clinton conversam com mulheres inspiradoras pelo mundo

Mãe e filha produzem e estrelam série documental inédita

Candidata à presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata em 2016, ex-secretária de Estado do governo de Barack Obama, ex-senadora e ex-primeira-dama, Hillary Clinton topou sair da zona de conforto e entrar numa aula de palhaços em Paris. Aos 74 anos e com o status de uma das mulheres mais poderosas da história da política americana, ela concordou até em usar um nariz vermelho no primeiro episódio da série documental “Gente de coragem”, estrelada por ela e pela filha, Chelsea, que estreia hoje na Apple TV+.

"Me vi no palco do Moulin Rouge, pensando: “O que estou fazendo aqui?” — disse Hillary, na coletiva de imprensa, aos risos. "Mas devo dizer que foi uma experiência extraordinária".

Mãe e filha não apenas aprenderam a arte clown como deram seu melhor como bombeiras e até dançarinas de tango. Estas experiências, expostas num tom íntimo, fazem parte da proposta da produção em colocar as Clinton ao lado de anônimas e famosas que, de alguma forma, têm coragem de correr riscos e transformar a comunidade em que vivem, seja pelo humor, pela maternidade ou pela luta contra o discurso de ódio. Este último tema foi o que mais tocou Hillary.

"Estamos num momento difícil em nosso país. Há muita divisão, desafios sérios à nossa democracia. Entrevistar uma mulher que fez parte de um grupo de supremacia branca e agora tenta desprogramar os outros para que eles possam deixar a raiva e a violência foi muito tocante e inspirador" disse ela, que perdeu a eleição para Donald Trump.

Nariz de palhaço e tango se encontram com a luta antifascismo porque mãe e filha querem se aproximar do público sem se distanciar de temas políticos. A produtora delas, HiddenLight, inclusive, segue nessa temática em outras produções, como o documentário “In her hands”, sobre a prefeita de uma cidade no Afeganistão. As duas estarão neste fim de semana no Festival de Toronto para a estreia do longa, cujas filmagens começaram antes da evacuação americana e continuaram depois que o Talibã tomou o poder.

Em “Gente de coragem”, apesar da ausência de política “com P maiúsculo”, o tema está ali o tempo inteiro porque é impossível viver sem ele.

"Ser uma mulher na América é inevitavelmente fazer parte da política, dado que nossos direitos fundamentais estão sob ataque" diz Chelsea, referindo-se à decisão da Suprema Corte que transfere aos estados a legalização ou não do aborto, tornando o procedimento crime em diversas partes do país. Esta série é mais política do que poderíamos imaginar por causa do momento em que é lançada.

Filha única de Bill e Hillary, Chelsea tem 42 anos, é escritora, especialista em saúde pública e mãe de três filhos. Os pais sempre estiveram ligados à política desde que ela nasceu, e aproveitar a vida (principalmente sendo uma adolescente que viu o pai ser envolvido num escândalo sexual enquanto presidente) foi a decisão mais destemida que pôde tomar, ela diz.

"Havia uma fotografia minha no jornal local no dia seguinte ao meu nascimento. Não sei como é não estar sob o olhar do público e não ter uma quantidade enorme de expectativas" conta. "Precisei de muita coragem para conduzir minha vida de forma íntegra quando era criança, adolescente, jovem adulta e agora mãe".

E Hillary, mulher que passou por papéis tão simbólicos? Quando precisou ser a “gente de coragem” de que fala sua série?

"A decisão mais corajosa que tomei na vida privada foi permanecer no meu casamento, que, como todos sabem, estava se desenrolando num cenário global. Fiz isso e não me arrependo" reflete. "Na minha vida pública, foi concorrer à presidência. Foi muito difícil por causa de todas as perguntas sem precedentes levantadas sobre uma mulher ser presidente e, obviamente, estou muito orgulhosa de nossa campanha e de conseguir mais votos. Lamento muito não ter ganhado a vaga, mas foi um projeto muito audaz".