Rock in Rio: Saiba por que o punk rock continua vivo e arrastando multidões
Raízes do gênero transgressor nascido nos anos 1970 unem as atrações desta noite no principal palco do festival
Não, ninguém que subirá ao Palco Mundo na noite desta sexta-feira (9) terá alfinetes atravessando orelhas ou narizes (cabelos arrepiados e coloridos até podem aparecer). E, para a decepção de alguns, os músicos de fato sabem tocar seus instrumentos. Ainda assim, o punk rock está nas raízes da maioria das atrações.
O grande nome da noite é o trio Green Day, de Oakland, um dos maiores expoentes do punk rock californiano, vertente mais melódica e pop do gênero outrora forjado por nomes como Sex Pistols e The Stooges. Antes deles, a família emo (que, sim, é uma espécie de sobrinha-neta do punk) aparece com um de seus representantes mais conhecidos, o Fall Out Boy. O primeiro astro estrangeiro da noite no palco mantém os cabelos no alto e, de fato, foi parte da onda punk, nos anos 1970, com o Generation X: Billy Idol partiu para um rock mais radiofônico, mas o DNA segue em suas melodias (como a de “Dancing with myself”, normalmente a primeira do show) e caretas. Abrindo a noite, o Capital Inicial deve ter em seu setlist músicas do Aborto Elétrico, uma das primeiras do punk brasileiro, como “Que país é esse?”, “Fátima” e “Veraneio vascaína”.
"Os punks ingleses foram influenciados por bandas americanas como os New York Dolls — diz o catedrático papito Supla, estudioso do assunto." O Malcolm McLaren, produtor que criou os Sex Pistols, trabalhou antes com os Dolls.
Os New York Dolls, assim como os Dictators, eram uma banda americana de aparência andrógina, o que viria a influenciar toda uma cena, principalmente a partir dos anos 1980, de rapazes maquiados com generosas doses de laquê nos cabelos. Um soco inglês na cara do punk machão.
"Ser punk é não cumprir as regras" define Supla. "Se você faz um som igual a uma banda que está estourada só para surfar na onda, isso não é punk. O importante é ter verdade, além de boas canções".
Os Sex Pistols — um dos principais nomes do gênero, banda criada por McLaren com frequentadores de sua butique, SEX, mas só os que tinham a aparência certa, no julgamento dele — duraram pouco em sua encarnação original, apenas três anos. Bandas mais longevas, como o Clash, uma das principais influências do Green Day, em pouco tempo começaram a incorporar outros gêneros ao som cru do punk.
"O Paul Simonon, baixista do Clash, me contou que começou a ouvir reggae porque conseguia escutar o baixo" conta Supla. — Nos últimos discos do Clash e nas bandas posteriores dos seus integrantes, é fácil ouvir influências do reggae, da música africana e de outros ritmos.
É claro que o sucesso acaba levando as bandas punks à berlinda, com a velha (e chata) história da venda da alma ao mercado. Os próprios Pistols usaram o nome “Filthy lucre” (“Lucro imundo”) como deboche ao se reunirem nos anos 1990, e o megaestourado Green Day não escapa das críticas.
"O Johnny Rotten (boquirroto cantor dos Pistols) costuma falar mal do Billie Joe Armstrong, cantor do Green Day, mas eu o acho um grande compositor" avalia Supla. — Só ele fazer os americanos todos cantarem “American idiot” (“Idiota americano”, uma crítica à apatia do povo dos EUA, música que costuma abrir os shows da banda, do disco homônimo de 2004) já é sensacional.