Elizabeth II: uma vida familiar não isenta de problemas
A rainha do Reino Unido teve sua cota de problemas familiares até o fim de sua vida
Ser mãe nunca é fácil. Ser rainha e mãe é menos ainda. Falecida na quinta-feira, Elizabeth II teve sua cota de problemas familiares até o fim de sua vida.
Na verdade, foi seu filho Andrew, considerado seu favorito, que ofuscou seus últimos anos de reinado com uma acusação em Nova York de agressão sexual a uma menor no âmbito de sua amizade com o falecido milionário Jeffrey Epstein.
Ele evitou o julgamento com um acordo judicial depois de pagar milhões à denunciante Virginia Giuffre, mas perdeu seus títulos militares, foi privado do título de Alteza Real e se tornou um pária para a família.
Com seu filho mais velho, Charles, que assume o trono após uma vida de espera, a relação muitas vezes foi complicada.
Elizabeth tinha 22 anos quando ele nasceu e 24 quando a princesa Anne chegou. Ela ainda era uma princesa na época, herdeira da Coroa, mas às vezes saía por meses para ficar com o marido Philip, oficial da Marinha estacionado em Malta, ou para viagens ao exterior.
Charles e Anne ficavam com suas babás e governantas, como acontecera com Elizabeth na infância.
A babá de Charles era "muito autoritária", explica à AFP Penny Junor, especialista em monarquia.
"A princesa era jovem e a babá assumiu a liderança". Elizabeth "esperava que a babá levasse Charles meia hora na hora do chá".
Para a especialista, "não há dúvidas" de que a rainha amava sua família. Mas ela estava muito ocupada com seus deveres e "não era muito expressiva".
Em fotos e vídeos antigos, uma soberana sorridente é vista posando com Charles em seu carrinho ou sacudindo um chocalho para o príncipe Andrew, nascido 11 anos depois do primogênito.
Mas a ternura não era comum. Quando o pequeno Charles, de 5 anos, se reencontra com seus pais que voltam de uma turnê de vários meses na Commonwealth, a rainha lhe estende a mão.
"Ela era mais distante do que indiferente", declarou mais tarde o príncipe de Gales em uma biografia autorizada.
"Se fosse um cavalo ou um cachorro, seriam muito mais próximos", diz Penny Junor sobre Charles, um menino sensível e desajeitado, e sua mãe, que adorava corgis e cavalos.
A princesa Anne, uma amazona notável e de personalidade extrovertida, compartilhará essa paixão com sua mãe, o que os aproximará durante a adolescência.
Mesmo assim, o protocolo não ajuda: filhos e netos devem se curvar diante da soberana.
A relação com Charles é ainda mais complicada, pois ele é o herdeiro do trono. Seu destino depende da morte de sua mãe.
"Ele sempre adorou sua mãe, colocou-a em um pedestal. Mas não é uma relação mãe-filho, é mais uma relação monarca-súdito", diz Penny Junor.
Com os dois filhos mais novos, Andrew e Edward, nascidos quando ela tinha 33 e 37 anos, a rainha vai manter uma relação mais descontraída, mesmo afastando-se das suas funções alguns meses após o parto.
Oito netos, doze bisnetos
As quatro crianças serão enviadas desde a juventude para internatos.
Em 1992, três deles se separarão de seus parceiros: Anne se divorcia de Mark Phillips, Charles se separa de Diana após um casamento desastroso e Andrew de Sarah Ferguson.
Um "annus horribilis", segundo a soberana.
Durante anos, Elizabeth rejeitará a ideia de um novo casamento de Charles com Camilla, seu amor e sua amante de longa data.
De fato, ela não compareceu ao casamento civil em 2005, embora tenha organizado uma recepção no Castelo de Windsor.
"Acho que não havia o menor elemento para sugerir que ela não se importava conosco", dirá a princesa Anne sobre sua mãe em um documentário da BBC.
Nos últimos meses, a rainha teve que lidar com a ameaça de um livro com confidências de seu neto Harry, que abandonou suas obrigações monárquicas e reconstruiu sua vida na Califórnia com sua esposa, a atriz americana Meghan Markle.
O casal expressou seus rancores contra a família real em uma entrevista de 2021 na televisão dos EUA, insinuando que era racista.
Prevista para os próximos meses, a publicação do livro pode agora estar ameaçada após a morte da monarca.
Com oito netos e doze bisnetos, Elizabeth II adorava jantares em família e festas de Natal em sua residência em Sandrigham.
O seu neto e príncipe herdeiro William, de quem era muito próxima, prestou homenagem no prefácio de uma biografia em que saudou "a sua bondade e senso de humor", o seu "amor à família" e "uma vida de serviço público" que serviu de "modelo".