Charles III viaja a Gales; acesso à fila para ver o caixão de Elizabeth sofre pausa
"Southwark Park (o fim da fila) atingiu a capacidade máxima. A entrada está suspensa por pelo menos seis horas", tuitou o governo britânico
O rei Charles III encerra nesta sexta-feira (16) em Gales uma viagem nacional depois de ascender ao trono, enquanto o acesso à fila de vários quilômetros para ver o caixão de sua falecida mãe foi suspensa por atingir a capacidade máxima.
Milhares de pessoas prestaram a última homenagem à monarca que reinou por sete décadas, mas o fluxo contínuo de pessoas obrigou as autoridades a suspender o acesso de entrada à fila de espera.
"Southwark Park (o fim da fila) atingiu a capacidade máxima. A entrada está suspensa por pelo menos seis horas", tuitou o governo britânico, pouco depois de anunciar que a espera para chegar ao Palácio de Westminster era de 14 horas.
O anúncio aconteceu algumas horas após um ataque a facadas que deixou dois policiais feridos em uma área relativamente próxima da fila, no bairro de Soho. O agressor foi detido e a força de segurança, que investiga o incidente, descartou uma motivação terrorista.
Os policiais atacados em Leicester Square estão fora de perigo, informou o prefeito de Londres, Sadiq Khan. O ataque, no entanto, gera dúvidas sobre a segurança para o funeral de Elizabeth II.
No salão com o caixão da monarca, que permanecerá aberto até a madrugada de segunda-feira (19), data do funeral Estado e sepultamento da rainha, cenas de grande emoção e profundo respeito são registradas.
Durante a longa espera, "você estabelece uma verdadeira relação com as pessoas que estão na frente e atrás. Viram seus amigos (...) mas quando chegamos à entrada do grande salão, a cordialidade mudou e virou algo muito sombrio e respeitoso", declarou à AFP Sue Davies, de 61 anos.
"Conseguimos parar por alguns segundos (perto do caixão). Não nos apressaram, foi muito tranquilo", disse Rupa Jones, uma londrina de 43 anos que estava ao lado de sua tia, Unita Jogia, de 65 anos.
"Não acredito que voltaremos a ter outra monarca como ela. Todos os anos esperávamos sua mensagem de Natal. Eu cresci com isso, agora vai ser muito diferente", afirmou Unita.
"Vigília dos príncipes"
Conhecida como a "vigília dos príncipes", uma cerimônia solene reunirá durante a noite o rei Charles III, de 73 anos, com seus irmãos Anne (72), Andrew (62) e Edward (58) em mais um momento de forte emoção dos 10 dias de luto e homenagens à soberana falecida em 8 de setembro aos 96 anos.
A tradição remonta a 1936, quando os quatro filhos de George V velaram o caixão do pai.
Charles e seus irmãos já velaram o caixão de Elizabeth II em Edimburgo na segunda-feira (12), enquanto os escoceses prestavam homenagem à monarca em uma câmara ardente estabelecida no país porque ela faleceu quando estava no castelo de Balmoral.
Durante 10 minutos, eles permaneceram com as cabeças inclinadas ao lado do caixão de carvalho, vestidos com seus trajes militares, com exceção de Andrew, de quem a própria rainha retirou a honraria no ano passado por seu envolvimento em um escândalo sexual.
A vigília começará às 19H30 (15H30 de Brasília) no Westminster Hall, um salão majestoso do século XI que constitui a parte mais antiga do Parlamento britânico.
Neste salão, o caixão está sobre um catafalco roxo, no topo de um pedestal, coberto pelo estandarte real, a coroa imperial e o cetro, símbolos do poder da monarquia britânica.
Controvérsia em Gales
Antes da vigília, Charles III encerrará a viagem pelas quatro nações que integram o Reino Unido - Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e Gales - na capital galesa, Cardiff, onde várias pessoas já aguardavam para ver o novo rei.
"Seria bom ter uma foto e, se tivermos a oportunidade, falar com ele", declarou à AFP Mike Jackson, de 37 anos e que mora em Zurique (Suíça).
O filho mais velho de Elizabeth II passou um período da juventude em Gales e se orgulha de ter aprendido, como Príncipe de Gales, sua complicada língua. O título passou para seu filho William, de 40 anos, novo herdeiro do trono.
Alguns desejavam a abolição do titulo criado há sete séculos, enquanto cresce o sentimento nacionalista nesta região do sudoeste da Grã-Bretanha.
"Há opiniões divergentes. Muitas pessoas não querem o título de Príncipe de Gales porque acreditam que deveria pertencer a um galês", disse à AFP Maria Sarnacki, prefeita de Caernarfon, cidade conhecida por seu imponente castelo.
O título de Príncipe de Gales foi utilizado originalmente pelos príncipes nativos, mas o último, Llywelyn ap Gruffudd, foi executado em 1282 durante a conquista de Gales pelo rei Edward I da Inglaterra.
Quase 750 anos depois, a região tem autonomia política e registra um distanciamento da Coroa que Charles III, menos popular que sua mãe, terá que se esforçar para superar.