"Serial": Juíza anula condenação de americano preso por 23 anos em caso famoso após podcast
Após 23 anos na cadeia por um homicídio que sempre negou ter cometido, Adnan Syed, de 42 anos, deixou a prisão nesta segunda-feira
Uma juíza dos Estados Unidos anulou nesta segunda-feira (19) a condenação de um homem detido há 23 anos por um homicídio que sempre negou ter cometido e ganhou notoriedade no podcast "Serial".
Adnan Syed, de 42 anos, foi condenado a prisão perpétua em 2000 pela morte de sua ex-namorada Hae Min Lee em Baltimore, na costa leste dos Estados Unidos.
Em uma reviravolta inesperada, a promotora da cidade, Marilyn Mosby pediu na semana passada a anulação da sentença, explicando que havia dúvidas sobre sua culpa, e pediu sua liberdade
Mosby explicou que descobriu a existência de "dois suspeitos alternativos", uma informação chave que não foi bem avaliada na época e, sobretudo, que não foi compartilhada com a defesa antes do julgamento.
Na segunda-feira, uma juíza validou o pedido em uma audiência realizada em uma sala judicial de Baltimore totalmente online.
— No interesse da justiça e da igualdade, a moção é concedida e o réu será liberado com uma tornozeleira eletrônica —, declarou a juíza Melissa Phinn.
Oficiais retiraram as algemas de Syed, enquanto uma parte dos presentes aplaudia até um chamado à ordem. O homem, de barba farta e um gorro branco, não reagiu à decisão.
Antes da audiência, o irmão da vítima havia declarado em uma teleconferência "viver um pesadelo que não acabava" e que se sentia "enganado" pelos promotores que sustentaram por anos ter encontrado o culpado.
Nos próximos 30 dias, a promotoria deve responder se um novo julgamento será organizado ou se abandonará a investigação contra Syed.
O caso teve início em 1999, quando a polícia encontrou o corpo de Hae Min Lee, de 18 anos, estrangulado em uma cova rasa nas matas de Baltimore. Adnan Syed, então com 17 anos, foi preso e, um ano depois, condenado à prisão perpétua.
Segundo a acusação, o jovem teria a matado por não aceitar o término do namoro. Syed sempre negou envolvimento no crime e disse ser vítima de discriminação contra muçulmanos.
Em 2014, foi ao ar o podcast "Serial", em que uma equipe de jornalistas faz uma investigação própria relatada ao longo de 12 episódios, que bateram recordes de audiência e mais tarde inspiraram uma série documental da HBO.
A investigação independente mostrou que a defesa de Syed não considerou uma perícia de telefonia móvel favorável ao acusado, assim como o depoimento de uma jovem que dava a ele um possível álibi.
Em março de 2018, um tribunal de apelações de Maryland ordenou um novo julgamento, alegando que a defesa não havia prestado um suporte eficaz a seu cliente. Porém, um ano depois, a Suprema Corte do estado reconheceu o equivoco do advogado ao não apresentar alguns elementos, embora tenha rejeitado o pedido de um novo processo.