RIO DE JANEIRO

Caso Moïse: mãe de congolês morto vira assistente de acusação em processo

Moïse Mugenyi Kabagambe, de 25 anos, foi espancado até a morte em quiosque no Rio

Moïse pertencia à etnia Hema e chegou ao Brasil em 2011 fugindo de conflitos em seu país - Reprodução

A mãe do congolês Moïse Mugenyi Kabagambe, de 25 anos, — espancado até a morte na orla da Barra da Tijuca no final de janeiro — se tornou assistente de acusação do processo contra os acusados pela morte do filho.

O pedido foi feito no final de julho pela Defensoria Pública, que representa a comerciante Lotsove Lolo Lavy Ivone, que buscou refúgio no Brasil para escapar da guerra civil e de violações de direitos humanos em seu país de origem, a República Democrática do Congo. O Ministério Público foi favorável ao pedido.

Moïse foi espancado no dia 25 de janeiro deste ano no quiosque Tropicália, no posto 8 da Barra da Tijuca, na zona Oeste do Rio, onde trabalhava como atendente. Imagens de câmeras de segurança flagraram três homens agredindo o congolês com socos, chutes e até pedaços de pau e depois tentando reanimar o rapaz. De acordo com a investigação da Polícia Civil, as agressões começaram após uma discussão entre Moïse e um homem identificado como Jailton Pereira Campos, o Baixinho.

Os três homens flagrados pelas câmeras de segurança foram identificados como Fábio Pirineus da Silva, o Belo, Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, o Dezenove, e Brendon Alexander Luz da Silva, conhecido como Tota. Eles foram presos e denunciados pelo MP por homicídio triplamente qualificado.

No entendimento do órgão, as circunstâncias do crime caracterizaram motivo fútil, impossibilidade de defesa da vítima e uso de meio cruel — tendo Moïse sendo agredido “como se fosse um animal peçonhento”, como escreveu o promotor Alexandre Murilo Graça, autor da denúncia.

A família do congolês conta que Moïse foi atacado no quiosque Tropicália após cobrar salários atrasados. Já a versão apresentada pelos três denunciados pela morte é de que o congolês, bêbado, vinha importunando vendedores e clientes dos estabelecimentos próximos, e tinha tentado roubar bebida do freezer do Tropicália antes de ser agredido. Os acusados negam que os ataques tenham tido relação com o fato de que Moïse era negro e imigrante.

Mãe de Moïse, Lotsove contou que o rapaz, um dia antes de morrer, informou que sairia para trabalhar e cobrar dois dias de trabalho que o quiosque Troplicália lhe devia. Ela também afirmou que Moïse trabalhava em esquema de comissão e que o pagamento normalmente era realizado no fim do dia, o que foi corroborado por testemunhas. No entanto, segundo ela, era comum que o quiosque atrasasse a parte das comissões referente às vendas feitas via cartão de crédito.

De acordo com a Polícia Civil, a mulher informou que "seu filho mantinha um caderno de anotações pessoal, onde anotava todas as vendas que realizava, objeto que, após sua morte, não foi mais visto".

Administrador do Tropicália, Carlos Fábio da Silva Muzi negou ter qualquer dívida com Moïse. Ele disse à polícia que conheceu o congolês em 2019, quando o vendedor começou a lhe prestar serviços esporádicos, e que Moïse chegou a atuar no quiosque no início deste ano, mas foi dispensado em 19 de janeiro por trabalhar alcoolizado.