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Autoridades do Irã advertem que não haverá 'clemência' para manifestantes

Manifestantes no Irã - STR / AFP

O chefe do Judiciário iraniano, Gholamhossein Ejei, ameaçou neste domingo (25) não mostrar "nenhuma clemência" aos manifestantes, após nove dias de protestos no país pela morte de uma jovem detida pela polícia da moral, nos quais mais de 40 pessoas morreram.

Ejei destacou a necessidade de "agir com decisão e sem clemência" contra os principais instigadores dos "distúrbios", segundo o site Mizan Online do Judiciário.

Os protestos são os maiores no país desde novembro de 2019 contra o aumento do preço da gasolina e que foram severamente reprimidos (230 mortos segundo balanço oficial, mais de 300 de acordo com a Anistia Internacional). 

O presidente ultraconservador Ebrahim Raisi chamou ontem as manifestações de "distúrbios" e pediu "às autoridades competentes que atuem com firmeza contra aqueles que atentam contra a segurança e a paz do país e do povo".

Autoridades negam envolvimento na morte da jovem Mahsa Amini, 22, mas, desde 16 de setembro, dia de sua morte, iranianos indignados saem às ruas todas as noites para se manifestar. Segundo o balanço oficial, 41 pessoas morreram nos protestos, incluindo manifestantes e policiais, mas segundo a ONG Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, 54 pessoas morreram na repressão aos protestos.

O chefe da diplomacia europeia, Joseph Borrell, disse hoje que o uso "desproporcional" da força contra manifestantes no Irã é "inaceitável".

A chancelaria do Irã acusou os Estados Unidos, país inimigo jurado, de desempenharem um papel nos protestos, e alertou que "os esforços para violar a soberania do Irã não ficarão sem resposta".

O Ministério das Relações Exteriores informou hoje que convocou o embaixador da Grã-Bretanha pelo que descreveu como um "convite para distúrbios" por parte dos veículos de língua farsi com sede em Londres, e o enviado da Noruega por "comentários pouco construtivos" feitos pelo presidente do parlamento daquele país.

O porta-voz da chancelaria, Hossein Amir-Abdollahian, criticou "o enfoque intervencionista dos Estados Unidos nos assuntos do Irã, incluindo suas ações provocativas para apoiar os desordeiros".

O ministro do Interior, Ahmad Vahidi, citado pela agência oficial IRNA, disse esperar que "a justiça processe rapidamente os principais responsáveis e líderes dos distúrbios", depois que a polícia anunciou a prisão de mais de 700 pessoas.

Paralelamente, autoridades voltaram a convocar manifestações em defesa do hijab e dos valores conservadores. Neste domingo, foram realizados comícios pró-governo, e o evento principal ocorreu na praça Enghelab, centro de Teerã, onde os manifestantes manifestaram apoio às leis sobre o véu.

"Houve mártires que morreram para que este hijab estivesse em nossas cabeças", disse a manifestante Nafiseh, 28, que se opõe ao uso voluntário do hijab. Outro manifestante, o estudante Atyieh, 21, lembrou que "tirar o hijab é violar a Constituição da república islâmica".

No Irã, as mulheres devem cobrir o cabelo e o corpo abaixo dos joelhos e não devem usar calças apertadas ou com rasgos, entre outras coisas. 

O principal partido reformista do Irã pediu ontem que o Estado suspenda a obrigação de as mulheres usarem véu em público e liberte os detidos. Nos protestos, várias mulheres queimaram seus véus.

A Anistia Internacional acusou as forças de segurança de "disparar deliberadamente munição real contra manifestantes" e pediu "ação internacional urgente para acabar com a repressão". 

O NetBlocks, site com sede em Londres que monitora os bloqueios na Internet em todo o mundo, informou que a Mobinnet, uma das maiores operadoras de rede do Irã, sofreu "uma interrupção em escala nacional". WhatsApp, Instagram e Skype estão bloqueados naquele país.

Em nova mensagem publicada no Instagram, o diretor de cinema iraniano duas vezes vencedor do Oscar Asghar Farhadi pediu aos cidadãos de todo o mundo que “se solidarizem” com os manifestantes e elogiou as “mulheres progressistas e corajosas que lideram os protestos por seus direitos”.