Conflito

Polícia do Irã anuncia oposição 'com todas as forças' aos manifestantes

Iranianos protestam contra a morte de Mahsa Amini, detida em Teerã por supostamente violar código de vestimenta

Manifestações foram desencadeadas pela morte da jovem Mahsa Amini, após ser presa em Teerã pela polícia da moral. - Drew Angerer / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / Getty Images via AFP

A polícia iraniana alertou, nesta quarta-feira (28), que agirá "com todas as suas forças" contra as manifestações desencadeadas pela morte da jovem Mahsa Amini, após ser presa em Teerã pela polícia da moral.

Pela 12ª noite consecutiva, os iranianos protestaram na terça-feira (27) contra a morte da jovem de 22 anos, detida em Teerã por supostamente violar o rígido código de vestimenta - que inclui cobrir o cabelo em público - imposto pela República Islâmica às mulheres em público.

Segundo Erfan Salih Mortezaee, primo da jovem e entrevistado pela AFP, ela morreu após um "golpe violento na cabeça" dado pela polícia no dia de sua prisão. 

Os pais de Mahsa Amini decidiram processar os policiais que a prenderam, disse o advogado da família, citado pela agência de notícias Isna. 

"Pedimos ao chefe do Ministério Público e ao juiz de instrução que investiguem detalhadamente a forma como foi realizada a detenção até a transferência de Mahsa para o hospital", onde a jovem morreu em 16 de setembro, três dias depois de ter sido detida, explicou o advogado Saleh Nikbakht.

Da mesma forma, o advogado pediu às autoridades que entreguem "todos os vídeos e fotos" disponíveis durante a detenção de Mahsa Amini pela polícia da moral. 

O promotor-chefe "prometeu que o caso será tratado minuciosamente, e todos os pedidos serão levados em consideração", segundo Nikbakht.

Dezenas de mortos
As autoridades iranianas negam qualquer envolvimento na morte de Mahsa Amini, originária do Curdistão iraniano, e alertaram que agirão com firmeza contra os manifestantes. 

"A polícia se oporá com todas as suas forças às conspirações dos contrarrevolucionários e aos elementos hostis. E agirá com firmeza contra aqueles que perturbam a ordem pública e a segurança em todo país", acrescenta a nota, citada pela agência de notícias Fars. 

De acordo com grupos de direitos humanos, a polícia disparou nos últimos dias contra manifestantes com balas reais. 

O último balanço oferecido nesta terça-feira pela agência de notícias Fars informou 60 óbitos nas manifestações desde 16 de setembro. A polícia registrou 10 agentes mortos, sem especificar se eles estão entre os 60. 

Na segunda-feira (26), a ONG Iran Human Rights (IHR), com sede em Oslo, relatou "pelo menos 76 mortos".

Bombardeios no Curdistão iraquiano
As autoridades iranianas denunciaram essas manifestações como atos de "grupos separatistas" e fruto de "complôs estrangeiros" e acusaram os Estados Unidos, seu grande inimigo.

Nesta quarta-feira, o Irã bombardeou grupos armados da oposição curda iraniana no Curdistão iraquiano, deixando pelo menos nove mortos e cerca de 30 feridos, segundo autoridades locais. Bagdá convocou o embaixador iraniano para expressar seu protesto.

A Espanha também convocou o embaixador iraniano em Madri "para expressar seu protesto contra a repressão às manifestações e à violação dos direitos das mulheres", disse uma fonte diplomática à AFP.

Horas antes, o secretário-geral da ONU, António Guterres, exortou o Irã a ter “moderação máxima” diante dos protestos que abalam o país.

1.200 detidos
As autoridades também anunciaram a detenção de mais de 1.200 manifestantes desde 16 de setembro. ONGs denunciam a prisão de ativistas, advogados e jornalistas.

De acordo com a agência de notícias iraniana Tasnim, Faeze Hashemi, filha do ex-presidente iraniano Akbar Hashemi Rafsanjani (1989-1997), foi detida em Teerã por "estimular os agitadores a protestar".

Nos últimos dias, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, pediu às forças de segurança que atuem com "firmeza contra os que atentam contra a segurança do país e do povo". O ministro da Justiça, Gholamhossein Mohseni Ejei, descartou qualquer tipo de "clemência" contra os instigadores dos "distúrbios". 

Para limitar os protestos, as autoridades bloquearam o acesso ao Instagram e ao Whatsapp no país, que também enfrenta problemas na conexão com a Internet.