Atentado

Ataque suicida deixa 20 mortos e 27 feridos em centro educacional de Cabul

Homem-bomba detonou sua carga explosiva enquanto estudantes se preparavam para um prova

Homem-bomba detonou sua carga explosiva no centro de ensino, em Cabul - AFP

Vinte pessoas morreram em um atentado suicida nesta sexta-feira (30) em um centro de ensino de Cabul, em um bairro de forte presença da minoria hazara, cenário de alguns dos ataques mais violentos no Afeganistão nos últimos anos.

"Os estudantes estavam se preparando para uma prova quando um homem-bomba detonou sua carga explosiva no centro de ensino", afirmou o porta-voz da polícia, Khalid Zadran, que atualizou o balanço de vítimas a 20 mortos e 27 feridos.

A Missão de Assistência as Nações Unidas no Afeganistão (MANUA) informou à AFP que, "segundo informações que dispomos, ao menos 24 pessoas morreram e 36 ficaram feridas".

O estabelecimento atacado prepara alunos, de 18 anos ou mais, para as provas de acesso às universidades.

Vídeos publicados nas redes sociais e fotografias da imprensa local mostram as vítimas sendo retiradas do local.

Muitas vítimas levadas para os hospitais eram mulheres, de acordo com um correspondente da AFP.

As forças de segurança foram enviadas ao local, enquanto as famílias seguiam para os hospitais em busca de informações sobre os parentes.

Em um hospital, os combatentes talibãs obrigaram os parentes a abandonar o local pelo temor de um novo ataque contra a multidão.

Listas com os nomes das vítimas fatais e dos feridos foram colocadas nas entradas dos centros médicos.

"Alvos civis"
"Não a encontramos aqui", disse, muito nervosa, uma mulher que procurava a irmã em um hospital. "Tem 19 anos. Estamos ligando, mas não responde", afirmou.

O porta-voz do ministério do Interior, Nafy Takor, afirmou que o ataque aconteceu no centro educacional Kaj e informou que as forças de segurança seguiram para o local.

"A natureza do ataque e informações sobre as vítimas serão divulgados mais tarde", disse. "Atacar alvos civis demonstra a crueldade desumana do inimigo e a falta de parâmetros morais", acrescentou.

O retorno dos talibãs ao poder no Afeganistão acabou com duas décadas de guerra no país e provocou uma redução considerável dos índices de violência, mas os desafios na área de segurança assombram o movimento islamita.

Os xiitas hazaras sofreram décadas de perseguição, também do Talibã, movimento acusado de atrocidades contra este grupo étnico durante seu primeiro período no poder (1996-2001).

Atualmente, os hazaras também são alvos frequentes dos ataques do principal inimigo do Talibã, o grupo extremista Estado Islâmico (EI).

Os dois movimentos fundamentalistas consideram os hazaras hereges.

O bairro da zona oeste de Cabul já foi cenário de vários ataques, muitos contra crianças, mulheres e escolas.

Em abril, duas explosões em centros de ensino da região mataram seis pessoas e deixaram 20 feridas.

No ano passado, antes do retorno dos talibãs ao poder, ao menos 85 pessoas morreram, a maioria alunas, e quase 300 ficaram feridas nas explosões de três bombas perto de uma escola em Dasht-e-Barchi.

Nenhum grupo reivindicou o ataque, mas um ano antes o EI assumiu um atentado suicida contra um centro de ensino na mesma área que matou 24 pessoas

Incoerência e fracasso total dos talibãs
Em maio de 2020, o grupo também assumiu a responsabilidade por um ataque armado contra a maternidade de um hospital do bairro, que matou 25 pessoas, incluindo mães que haviam acabado de ter seus filhos.

A educação é uma questão muito delicada no Afeganistão. O Talibã não permite a reabertura das escolas do Ensino Médio para meninas, enquanto o EI é contrário a qualquer tipo de ensino para mulheres.

O ataque é "um lembrete vergonhoso da inépcia e fracasso total do Talibã" em proteger a população afegã, disse a Anistia Internacional. 

"Medidas urgentes devem ser tomadas para garantir a segurança" dos habitantes, "particularmente dos membros de comunidades minoritárias", insistiu a ONG. 

"O ataque à educação dos hazaras e dos xiitas deve parar. É necessário deter os ataques contra o futuro do Afeganistão e os crimes internacionais", tuitou o relator especial da ONU sobre o Afeganistão, Richard Bennett. 

"Mais uma vez, os terroristas atacaram civis inocentes", tuitou a União Europeia, condenando "outro crime atroz".