Furacão Ian: eletricidade volta a Havana após duas noites de protestos sem internet
Apagão ocorreu na terça-feira após a violenta passagem do furacão Ian pelo oeste de Cuba
O fornecimento de energia elétrica foi restabelecido em 94,53% das residências de Havana, informou a estatal União Elétrica (UNE) neste sábado (1º), após uma segunda noite de manifestações em diferentes partes da cidade e um corte generalizado de internet em Cuba.
Em meio a protestos pela falta de eletricidade devido ao apagão ocorrido na terça-feira após a violenta passagem do furacão Ian pelo oeste de Cuba, o serviço de internet foi cortado na sexta-feira por volta das 20h locais (21h de Brasília) em toda a ilha, segundo o NetBlocks, site que monitora bloqueios de internet em todo o mundo.
A companhia elétrica da capital, subsidiária da estatal e monopolista UNE, disse em sua conta no Facebook que em "Havana, com um total de 854.074 clientes, 46.719 são afetados (e) 807.360 têm serviço de eletricidade, 94,53% de recuperação".
Ao menos dois joves foram detidos quando protestavam em Línea, uma avenida central, para exigir o restabelecimento da energia elétrica.
Enquanto isso, na província de Pinar del Río, a mais afetada pelo furacão, a restauração elétrica é de apenas 3,12% e, na vizinha Artemisa, é de 38,11% do total de usuários.
A UNE não forneceu a taxa de recuperação do serviço a nível nacional.
A NetBlocks tuitou na noite de sexta-feira que "dados de rede em tempo real mostram que a internet foi cortada em Cuba pela segunda noite consecutiva".
Segundo o site especializado, “as métricas mostram um colapso na conectividade após as 20h, horário local, em meio a protestos por más condições e quedas de energia agravadas pelo furacão Ian”.
O serviço de internet voltou lentamente no sábado. A empresa cubana de telecomunicações Etecsa não confirmou a queda total do serviço durante as duas noites.
"Queremos luz"
Neste sábado, as manifestações continuaram em pelo menos um bairro de Havana, com 2,1 milhões de habitantes, desencadeadas na quinta-feira em vários pontos da cidade para exigir que as autoridades recuperassem a eletricidade.
Em Vedado, um bairro populoso no centro de Havana, algumas dezenas de pessoas saíram esta manhã às ruas batendo panelas para exigir luz.
Em Guanabacoa, município a leste de Havana, outro grupo de pessoas saiu para bloquear as ruas com galhos, árvores derrubadas por Ian e contêineres de lixo, como vem acontecendo em outras partes da cidade, mostram imagens divulgadas na internet.
Na noite de sexta-feira, cerca de 100 pessoas se manifestaram no município de Cerro, numa zona central da capital. Às vezes, o clima esquentava devido à forte presença policial. "Queremos luz! Queremos luz!", repetiam. Em outro ponto próximo, sobretudo mulheres com crianças foram protestar.
Estas mulheres, como a maioria dos manifestantes, se desesperam com os apagões que colocam em risco os poucos alimentos que armazenam em seus freezers e que também impedem o bombeamento de água das fontes que abastecem a capital.
Solicitação a Washington
As forças policiais foram mobilizadas por toda a cidade, embora geralmente permitissem que os protestos prosseguissem.
A mais alta autoridade de Havana, o primeiro secretário do Partido Comunista (PCC, único), no poder, Luis Antonio Torres, disse na sexta-feira que "protestar é um direito", mas considerou que, em vez de ajudar, atrasa o trabalho de recuperação.
Os protestos desta semana em Havana são os maiores desde as manifestações históricas de 2021, que deixaram um morto, dezenas de feridos e cerca de 500 manifestantes cumprindo penas, alguns de mais de 20 anos de prisão.
O governo dos Estados Unidos recebeu um pedido incomum do governo cubano para fornecer ajuda emergencial após o impacto devastador do furacão Ian, de acordo com The Wall Street Journal.
Um porta-voz do Departamento de Estado dos EUA afirmou à AFP que Washington segue se comunicando com o governo cubano sobre "as consequências humanitárias e ambientais do furacão Ian e do incêndio de 5 de agosto" em um importante centro de armazenamento de combustível em Matanzas, a 100 km de Havana.
"Estamos avaliando as maneiras pelas quais podemos continuar apoiando o povo cubano, em consonância com as leis e regulamentos dos Estados Unidos", disse. Washington mantém um embargo contra Cuba há seis décadas, endurecido desde o governo de Donald Trump (2017-2021), o que dificulta esse fluxo.
A chancelaria cubana divulgou em um tuíte uma carta publicada pelo jornal The New York Times, em que "líderes e ativistas nos EUA fazem um apelo urgente, exigindo que (Joe) Biden suspenda temporariamente as sanções e permita que Cuba compre as provisões necessárias para a reconstrução após o #HuracánIan".