Lula e Bolsonaro vão ao segundo turno das eleições presidenciais
Ficou para o segundo turno, marcado para o dia 30 de outubro, a definição sobre quem será o próximo presidente do Brasil. Como esperado, antes mesmo do início da campanha, os dois protagonistas dessas eleições, Lula (PT) e Bolsonaro (PL), garantiram suas participações na disputa para definir os rumos do País nos próximos 4 anos.
Mesmo terminando na frente, Lula não conseguiu alcançar o patamar necessário para encerrar as eleições no primeiro turno, que seria superar os 50% dos votos úteis – que desconsidera os votos brancos e nulos.
A partir desta segunda-feira (3), recomeça a campanha eleitoral nas ruas e, no dia 7, a propaganda gratuita na rádio e TV.
Bolsonaro surpreende pesquisas
A eleição presidencial no Brasil será definida no segundo turno, em 30 de outubro, depois de o presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentar neste domingo (2) um desempenho surpreendente frente ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que venceu por uma estreita margem.
Ao final de uma apuração disputadíssima, na qual Bolsonaro abriu vantagem de até sete pontos, que foi diminuindo a conta-gotas, os resultados situaram o ex-presidente Lula com 48,39% dos votos, frente a 43,23% para o presidente, após a apuração de 99,85% das urnas.
Os principais institutos de pesquisa anteciparam uma ampla vantagem para Lula há meses e inclusive tinham antecipado a possibilidade de que o ex-presidente vencesse já neste domingo sem a necessidade de um segundo turno.
No entanto, Bolsonaro resistiu e obteve um resultado no qual apenas seus apoiadores acreditavam.
Bolsonarismo fortalecido
"Vencemos a mentira no dia de hoje", disse Bolsonaro, em alusão aos institutos de pesquisa, em declarações a jornalistas no exterior do Palácio da Alvorada, em Brasília, mostrando-se otimista frente ao "segundo tempo" da disputa.
O bolsonarismo também saiu fortalecido nas eleições legislativas e de governadores, celebradas paralelamente. Para a Câmara Federal, por exemplo, foi eleito deputado seu ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (PL-SP), que precisou deixar o governo por denúncias de corrupção.
"Eu me atreveria, inclusive, a dizer que o bolsonarismo venceu o primeiro turno", disse Bruna Santos, do Instituto Brasil, do Wilson Center, centro de análise em Washington. "Saiu reforçado no Congresso e no Senado. Sem mencionar que ampliou sua base nos governos estaduais", acrescentou.
Disputa estendida
Enquanto isso, Lula, que inclusive tinha reservado a Avenida Paulista para comemorar a vitória em grande estilo, agora terá que disputar cada voto.
"A luta continua até a vitória final", disse o ex-presidente, de 76 anos, no hotel em São Paulo onde aguardou os resultados. "Isso para nós é apenas uma prorrogação", acrescentou.
"Vamos ter que viajar mais, fazer mais atos públicos, mais comícios" para "convencer a sociedade brasileira daquilo que estamos propondo", emendou o ex-presidente, visivelmente cansado.
"Os resultados de hoje vão forçar Lula a cortejar os eleitores de centro e, inclusive, os conservadores de forma mais agressiva nas próximas quatro semanas", disse em um tuíte Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo.
Repercussão internacional
O presidente argentino, Alberto Fernández, cumprimentou Lula pela vitória no primeiro turno.
"Parabenizo meu querido Lula pela vitória no primeiro turno e envio meu sincero respeito ao povo do Brasil por sua profunda expressão democrática", escreveu Fernández no Twitter.
Apoio a Bolsonaro
Bolsonaro, um ex-capitão do Exército, de 67 anos, concentrou sua estratégia de campanha nos valores morais ("Deus, pátria, família"), um discurso patriótico e ataques a seu adversário, a quem chama de "ladrão" e "ex-presidiário".
Ele mantém um apoio sólido entre o eleitorado evangélico, que representa um terço do eleitorado, o agronegócio e os setores populares que não perdoam o Partido dos Trabalhadores de Lula pelos escândalos de corrupção.
Bolsonaro atacou durante seus comícios as pesquisas: assegurou que a temperatura eleitoral deveria ser tomada nas ruas, e que neste caso venceria com folga. Há duas semanas, disse que seria "anormal" caso não vencesse por 60% no primeiro turno.
"Não me surpreendem os resultados. Vencer toda uma estrutura para eleger um candidato (Lula) não é fácil e ter um segundo turno mostra a força" de Bolsonaro, disse à AFP Paulo Ferreira, aposentado da Petrobras de 70 anos.
O presidente Bolsonaro teve um mandato marcado pela gestão turbulenta da pandemia, que deixou 686.000 mortos, um avanço da pobreza e da fome, níveis recorde de desmatamento na Amazônia, suspeitas de irregularidades rondando sua família e aliados, e ataques contra as instituições judiciais e a imprensa.
A mácula da corrupção
Lula, por sua vez, contava em conquistar com ampla folga neste domingo um terceiro mandato, apoiado pelas classes populares, as mulheres e os jovens, após ter governado o país entre 2003 e 2010, e ter deixado o poder com um invejável índice de popularidade de quase 90%.
Mas Lula não conseguiu superar aos olhos de boa parte da sociedade a mácula da corrupção. Foi sentenciado e depois obteve a anulação de suas condenações por motivos processuais na operação Lava Jato, que investigou um esquema de propinas na Petrobras.
No centro do Rio, Viviane Laureano da Silva, servidora pública de 36 anos, mostrou-se confiante em que Lula vai vencer no segundo turno. "A campanha vai ser difícil, mas ele ganha. Sou da periferia e vejo como povo lá apoia o Lula", disse à AFP após a divulgação dos resultados.
Caso seja eleito, Lula promete combater a fome no Brasil, tirar o país de seu isolamento diplomático e pôr fim à sua imagem de "pária" ambiental, devido ao desmatamento maciço da Amazônia, durante o governo Bolsonaro.