Desastre Air France

Julgamento da tragédia do voo Rio-Paris em 2009 começa com leitura dos nomes dos 228 mortos

Em 1º de junho de 2009, o avião do voo AF447 caiu no meio da noite no Atlântico causando a morte de seus 216 passageiros e 12 tripulantes

Um homem segura um cartaz com os dizeres "Justiça francesa, 13 anos atrasado" no tribunal de Paris em 10 de outubro de 2022 durante o julgamento das empresas Airbus e Air France pelo acidente do voo Rio-Paris Air France A330 em 1º de junho de 2009 - Thomas Samson / AFP

O julgamento contra a fabricante Airbus e a companhia aérea Air France por homicídio culposo começou nesta segunda-feira, na França, com a leitura dos nomes das 228 pessoas que morreram em 2009 na tragédia aérea entre Rio e Paris. Mais de cinquenta parentes das vítimas estavam na sala lotada do tribunal correcional de Paris, onde os três magistrados leram os nomes dos mortos em meio a um silêncio doloroso.

Pouco antes, o CEO da Airbus, Guillaume Faury, e a diretora-geral da Air France, Anne Rigail, ouviram as acusações contra as duas empresas, cercados por seus advogados.

Em 1º de junho de 2009, o avião do voo AF447 caiu no meio da noite no Atlântico, 3 horas e 45 minutos após a decolagem no Rio, causando a morte de seus 216 passageiros e 12 tripulantes. Foi o desastre mais mortal da história da Air France.

Os primeiros destroços, assim como corpos, foram encontrados nos dias que se seguiram, mas a fuselagem só foi localizada quase dois anos depois, em 2 de abril de 2011, a 3.900 metros de profundidade cercada por altos relevos subaquáticos, durante a quarta fase de buscas.

As caixas-pretas, recuperadas um mês depois, confirmaram que os pilotos, desorientados pelo congelamento das sondas de velocidade Pitot numa zona de convergência intertropical perto do Equador, não conseguiram recuperar a sustentação (estol) da aeronave, que caiu em menos de cinco minutos.

Após uma longa sucessão de perícias, os juízes de instrução arquivaram o caso em 29 de agosto de 2019. Indignados, familiares das vítimas e sindicatos de pilotos recorreram e, em 12 de maio de 2021, a Câmara de Instrução decidiu pelo processo por homicídios involuntários das duas empresas.

— Não param de nos dizer que o sistema aéreo, o transporte aéreo, têm como lema a segurança. Neste caso, vemos que às vezes a segurança é deixada de lado — disse à AFP Sébastien Busy, advogado dos familiares das vítimas.

Para o advogado, o objetivo de seus clientes é duplo: "obter a verdade judicial, para entender o que aconteceu exatamente naquela noite" e também construir com esse julgamento "a segurança (aérea) de amanhã".

No entanto, as famílias das vítimas vão acompanhar o julgamento com sentimentos contraditórios.

— Não espero nada deste processo — disse à AFP Nelson Faria Marinho, presidente da associação brasileira das vítimas do voo AF447 e cujo filho morreu no acidente aos 40 anos. Este homem de 79 anos não viajou a Paris por falta de recursos.

Já a presidente da associação de familiares das vítimas Entraide et Solidarité AF447, Danièle Lamy, por sua vez, espera que este processo, após uma "batalha jurídica", "seja o julgamento da Airbus e da Air France" e não "o dos pilotos ".

Para o sindicato de pilotos do grupo Air France (SPAF), é "importante que um tribunal possa ouvir todas as partes e se pronunciar sobre as diferentes responsabilidades durante um processo público, onde será destacada a importância da segurança dos voos" .

O avião registrado F-GZCP, colocado em serviço quatro anos antes, transportava passageiros de 33 nacionalidades diferentes: 61 franceses, 58 brasileiros e 28 alemães, assim como italianos (9), espanhóis (2) e um argentino, entre outros.

Um total de 476 familiares constitui a parte civil. Cinco dias serão dedicados àqueles que desejam testemunhar. O tribunal terá que determinar se a Airbus e a Air France, que enfrentam uma multa de 225 mil euros (cerca de 220 mil dólares), cometeram erros relacionados à tragédia. As duas empresas negam ter cometido qualquer infração penal.