Ucrânia chama Rússia de 'Estado terrorista' em reunião da ONU
País também apresentou resolução na ONU condenando a anexação de regiões do país por Moscou
A Ucrânia chamou a Rússia de "Estado terrorista" nesta segunda-feira (10), ao apresentar uma resolução na ONU condenando a anexação de regiões do país por Moscou.
"A Rússia mostrou mais uma vez que é um Estado terrorista que deve ser dissuadido da forma mais contundente possível", declarou o embaixador ucraniano Sergiy Kyslytsya, após a chuva de mísseis e drones que caíram em território ucraniano nesta segunda-feira e mataram 11 pessoas.
Para o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, os ataques são "uma nova escalada inaceitável da guerra" e mostram, segundo o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, "a brutalidade absoluta" do presidente russo, Vladimir Putin. A diplomacia europeia os chamou de "bárbaros", e a Otan, de "horríveis e indiscriminados".
O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, afirmou que "a sabotagem" da ponte que liga a Crimeia (península anexada unilateralmente em 2014 por Moscou) ao território russo não ficaria "impune", e comparou o regime de Kiev às "piores organizações terroristas".
A resolução da Ucrânia, co-patrocinada por mais de 40 países, mostrará o grau de isolamento da Rússia na comunidade internacional, após sete meses de guerra na Ucrânia.
A Rússia, que em 30 de setembro vetou uma resolução semelhante no Conselho de Segurança, sofreu sua primeira derrota logo após o começo desta reunião de emergência da Assembleia Geral.
Voto aberto
A insistência de Moscou para que o voto fosse secreto, a fim de evitar "a enorme pressão dos Estados unidos e de seus aliados", provocou três votações e foi rejeitada por 100 votos a 14, e 38 abstenções. Pouco antes, uma proposta da Albânia para que o voto fosse aberto havia sido aprovada por 107 votos a 13, com 39 abstenções. Por exigência da Rússia, voltou a ser votada.
Os 193 países-membros da ONU votarão sobre as "anexações ilegais" das regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhzhia, após os "chamados referendos" realizados no final de setembro, e ressaltarão que essas ações "não têm validade sob o direito internacional".
A resolução, que é co-patrocinada por 44 países, também pede que nenhum Estado reconheça essas anexações e exige a retirada imediata das tropas russas da Ucrânia.
"Nunca reconheceremos esses chamados 'referendos' ilegais que a Rússia inventou como pretexto para suas violações da independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia", assinalou o representante da União Europeia Silvio Gonzato, ao qual se somaram outras vozes, como as de Costa Rica, países bálticos, Países Baixos, Luxemburgo e México.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dimytro Kuleba, em viagem ao continente africano, exortou a "África a não permanecer neutra", uma vez que tal postura "apenas encorajará a Rússia a continuar sua agressão e atividades maliciosas em todo o mundo, incluindo na África", segundo um comunicado divulgado pela embaixada ucraniana no Senegal.
"Se o sistema ONU e a comunidade internacional, por meio da Assembleia Geral, não reagissem a esse tipo de tentativa ilegal, estaríamos em uma situação muito, muito ruim", comentou antes Olof Skoog, que, como embaixador da União Europeia (UE) na ONU, redigiu o texto juntamente com a Ucrânia e outros países. A falta de ação da Assembleia Geral daria "carta branca para outros países fazerem o mesmo, ou reconhecerem o que a Rússia fez", afirmou.
Uma vez que discursaram apenas 20 dos cerca de 70 países inscritos na lista, a votação não acontecerá antes desta quarta-feira, quando a sessão de emergência será retomada.
Em setembro, na votação no Conselho de Segurança que acabou vetada pela Rússia, nenhum outro país se colocou ao lado de Moscou, embora Brasil, China, Índia e Gabão tenham se abstido.
As duas primeiras resoluções da Assembleia Geral contra a invasão russa, em março, obtiveram 141 e 140 votos a favor, cinco contra (Rússia, Belarus, Síria, Coreia do Norte e Eritreia) e entre 35 e 38 abstenções.
A terceira, no fim de abril, que suspendeu a Rússia do Conselho de Direitos Humanos, resultou na erosão da unidade internacional contra Moscou, com muito mais abstenções (58) e votos contrários (24), e 93 votos a favor.